Diz o Correio da Manhã, que o homem se arrisca agora a uma pena de 3 anos de prisão. O homem é identificado como um ex–emigrante português, de 58 anos e um auto didacta da arqueologia. Diz o jornal que, há já 4 anos que Mário Tavares – é como se chama – escava em terrenos públicos de Valpaços e Chaves, em busca de vestígios de antigas civilizações. Terá encontrado mais de cem objectos de riqueza inestimável – diz o jornal – mas que nunca os tentou vender. Aliás, parece que, face à riqueza histórica dos achados, nem há cotação no mercado para eles. Não forçosamente por isso, mas a verdade é que não vendia, tinha-os guardado em casa. Seriam talvez o seu pequeno tesouro pessoal, o seu pecadilho. Moedas e objectos em barro, granito e bronze e ferro… vestígios das épocas romana e medieval. Diz que usava um detector de metais, para o ajudar nas buscas…
Acontece que a Policia Judiciária acaba de o constituir arguido por, à face da lei especial que regula a matéria, ser crime, o que se chama de violação de vestígio arqueológico. Será essa a moldura, no quadro da situação presente. E é por isso também que este arqueólogo amador – e aqui no sentido, se calhar, mesmo literal da palavra… amador, o que trabalha por amor à arte… é por isso então que, pode vir a ser condenado a 3 anos de prisão. O Correio da Manhã lembra que, já o ano passado, tinha chamado a atenção para este "entusiasmo" – como lhe chama – o "entusiasmo" de Mário Tavares. Foi em Março, que o jornal o entrevistou. Na altura, tinha acabado de descobrir uns artefactos romanos, num terreno particular. Disse, então, que tinha autorização do dono do terreno, para fazer as escavações e que o Estado não tinha, por isso, nada que se intrometer. No caso, a intromissão de que falava, era a do Instituto Português do Património. Disse também que, depois desse episódio, esperava que as instituições competentes promovessem um levantamento do local. Já que, sozinho não o conseguia fazer.
E a notícia acaba aqui. Não diz se, entretanto, as tais instituições, de que falava, promoveram ou não os levantamentos, ou o que fosse… Sabe-se é que, todo o espólio que guardava em casa, está agora à guarda do museu de Macedo de Cavaleiros e que a Judiciária o constituiu arguido, num processo crime de violação de vestígio arqueológico, que lhe pode valer 3 anos de prisão efectiva.
O que se sabe também, apesar de não ter grande coisa a ver com esta conversa, é que o património nacional continua a ser vendido, aos cacos e em peças, para enfeitar casas e jardins de gente com gosto requintado, o mesmo acontecendo a muita arte sacra, neste caso, claro, para gente de gosto requintado e também devotas paixões.
Só uma última questão, enfim, quase tão desgarrada do assunto, como a anterior… e se em vez de o mandar prender, o contratassem para ajudar nas escavações?!...
E, antes que me esqueça, deixem que vos cite Edward Estlin Cummings, poeta, pintor, ensaísta, dramaturgo e norte-americano.
E que o cite, tal como o Público hoje o faz. E diz assim: “Vivo tão acima dos meus rendimentos que se pode quase dizer que vivemos separados”.
Para bom entendedor, esta meia palavra só peca por tardia.
E já que estamos no Público, deixemo-nos ficar só mais um bocadinho, porque é justamente o jornal Público, que hoje anuncia, na primeira página, que mais de 35 mil imigrantes conseguiram a nacionalidade portuguesa, durante o ano passado. Um número 4 vezes superior, em relação ao ano de 2007. O jornal explica este aumento com a entrada em vigor da nova lei da nacionalidade. É por isso que, segundo o jornal, as faces dos portugueses estão a ficar cada vez mais heterogéneas… gente de África, dos Brasis, da Moldávia…
E depois, a fotografia, que o Público escolheu para ilustrar a notícia.
Presume-se que esta mesa, que aparece em primeiro plano cheia de papéis amontoados em pequenas pilhas ordenadas e mais ou menos classificadas segundo o assunto e o andamento do processo, tenha sido tirada numas instalações do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, assoberbado, como já se previu, de trabalho, por estes dias…
Não se sabe se a fotografia foi ou não encenada. Ou seja, não se sabe, se esta quantidade enorme de papéis amontoados numa certa ordem caótica sobre a mesa, em primeiro plano, foi de facto posta ali para ilustrar de forma simbólica a quantidade de trabalho com que o SEF se confronta, depois de Schengen e dos acordos de livre circulação. Não se sabe, portanto também e logicamente, se é mesmo assim que os documentos estão arrumados, ao monte em cima de uma secretária…O que se sabe é que, precisamente um dos montinhos empilhados sobre a mesa diz respeito a vistos de Schengen. Sabe-se, porque está lá escrito, garrafal, na página de rosto, que surge na fotografia. Um outro montinho, já quase fora do enquadramento, dirá respeito, por seu lado, aos chamados “Vistos de Estado”, também se consegue ler sem esforço. E pelos vistos há mais, só que na fotografia já se não consegue ver o que está escrito nesse outro que, este sim, já só deixa ver o início da frase. Vistos de… o resto já não se vê. Agora o que não deixa mesmo margem para dúvidas nenhumas é este outro que se destaca bem ao centro do instantâneo. E aqui, a primeira coisa que salta à vista é que, palavra Visto, não aparece. Em vez dela, temos a palavra “Títulos”.
“Títulos caducados…”, para ser mais preciso e rigoroso. E caducados, já agora, há quanto tempo?, para ser só um bocadinho mais exacto… Há muito tempo. É o que está aqui escrito: “Títulos caducados há muito tempo. “
Sejam lá esses títulos o que forem, para o que interessa e mais importa, já caducaram há muito tempo. Há tanto tempo, se calhar, que até já nos esquecemos de os arrumar onde não estorvem. É que, pela fotografia, o espaço livre em cima desta secretária é mesmo pouco para tanta papelada à espera de despacho.
Só mais uma dúvida aritmética… quanto tempo é muito tempo? E bastante tempo? E qual deles é mais tempo? Que pena não termos agora tempo para esclarecer esta quase angústia metafísica…
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