O Público de hoje dedica-lhe página inteira e para ilustrar a história até publica a fotografia do protagonista. A história, ou melhor, a notícia é a de que José Sócrates promete baixar as deduções fiscais para os mais ricos. Foi ontem, no Porto, onde o secretário-geral foi apresentar a moção ao Congresso e aproveitou para anunciar a tal medida fiscal, que alegadamente vai repor alguma justiça e equilibrar a balança entre contribuintes mais ricos e outros de menores rendimentos. Os economistas dividem-se entre a justiça desta medida e o eleitoralismo, eventualmente implícito no anúncio do primeiro-ministro. De uma forma genérica, as opiniões balançam entre a justiça do princípio em geral e o fraco impacto que a medida poderá vir a ter, no balanço e contas final.
Campos e Cunha, por exemplo. O ex- ministro das Finanças acha que, medidas destas, deveriam surgir integradas num pacote de reformas fiscais e não assim, de forma avulsa e ad hoc , ou, como Campos e Cunha disse – mais para preparar eleições do que para resolver a vida dos portugueses… António Nogueira de Campos, ex- secretário de Estado das Finanças, é dos que acham que a medida vai ter pouco impacto , já que envolve montantes relativamente pequenos. António Carlos Santos, ex- secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, sob o consulado de Sousa Franco, concorda com o princípio em geral. Acha-o justo e principalmente bem-vindo, nesta altura de crise aberta e declarada.
Agora, Sócrates ele próprio. Ontem, no Porto, defendeu a sua dama, dizendo que não há nenhuma razão, para aqueles que são mais ricos passarem a deduzir o mesmo, que a classe média portuguesa deduz… Continuemos a citar o primeiro ministro… que têm despesas com a educação, despesas com a saúde, muito bem (isto é Sócrates a falar), mas as suas deduções (deduz Sócrates)) não devem ser o mesmo que são para a classe média. Ora, é uma opinião respeitável, sendo que, tendo em conta que os descontos e deduções são feitos em percentagem dos rendimentos… é de uma elementar aritmética que, quem tiver mais rendimentos acaba por contribuir com uma parcela maior, para o deve e o haver… haveria de ser assim… e assim seria se todos declarassem rigorosamente o que realmente ganham e todos cumprissem o que a lei determina e o Fisco obriga…
E chegamos à fotografia. A legenda diz que Sócrates, ontem, no Porto, destacou a política fiscal. E ainda bem! Ainda bem, que a legenda explica o que está a fazer o primeiro-ministro, ou o que acabava de fazer, quando o fotógrafo disparou o instantâneo.
Porque, se não fosse a legenda, teríamos de nos lançar à adivinhação. Passando a explicar… A sala está vazia. Ou seja, as cadeiras atrás de Sócrates estão vazias. Só o primeiro-ministro surge em grande plano erguendo os braços, flectidos por trás do pescoço, acima da cabeça, enquanto fecha a boca com força, apertando os lábios numa expressão que não se percebe se é de esforço, ou de um contentamento à beira da explosão. Uma atitude, ou postura, que facilmente se poderia confundir com o gesto de uma pessoa a espreguiçar-se. Acontece que, o olhar de Sócrates se perde para fora de campo. Já vos falei da expressão nos olhos?... É de um contentamento mal contido. Sócrates erguendo os braços por cima da cabeça, punhos cerrados, boca apertada num esgar de esforço e os olhos brilhando de um contentamento mal contido. Assim mesmo e tal e qual, descartada que seja a hipótese, por absurda e improvável, do primeiro-ministro estar a espreguiçar-se, resta uma legenda bem mais óbvia, que a que o Público escolheu. “Sócrates festeja o golo da selecção Nacional”. Podia ser a legenda e ninguém desconfiava. “Sócrates explica como se deve colocar correctamente um chapéu de campino”. Também encaixava. Mas não. Diz o Público, que Sócrates destacou ontem no Porto a política fiscal. Ora aí está… uma imagem vale mais que mil palavras?!... Olhe que nem sempre, shô tôr, olhe que nem sempre!
E esta notícia já por aqui tinha passado, pelas páginas do JN. Hoje acrescenta-se-lhe o veredicto final. O viaduto vai mesmo abaixo.
O viaduto do Forte da Casa, no concelho de Vila Franca de Xira. O mesmo que foi construído há 8 anos e nunca chegou a servir para coisa nenhuma.
Diz o jornal que, “com 8 anos de construção e 2 milhões de euros depois, a Câmara de Vila Franca vai demolir o viaduto do Forte, uma ponte cuja altura foi mal calculada, não tendo saída de um dos lados, por embater numa serra”. É bem verdade, que a fotografia não deixa dúvidas. O viaduto desemboca mesmo de encontro a uma colina sem saída aparente. Aparentemente, porque os construtores rodearam entretanto a situação construindo uma estrada contornando o morro, abatendo, segundo o JN, árvores centenárias inseridas numa área de Reserva Ecológica Nacional. Aliás, o projecto chegou a ser alvo de uma providência cautelar e de um relatório crítico, do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, precisamente por se encontrar em áreas de redes agrícolas e ecológicas. Mas fixemo-nos no essencial e mais óbvio. E o óbvio é que o tal morro já lá estava, quando os planos foram desenhados no papel. Diz o jornal, que apesar de fiscalizado por uma empresa de segurança, cedo se percebeu que o viaduto não tinha saída, colocando-se na altura a hipótese de se escavar um túnel por baixo da colina. O que não chegou a ser feito, porque punha em risco as urbanizações vizinhas. Decidiu-se então construir uma estrada a contornar o monte. Desmatou-se o local e construiu-se uma estrada, que leva ao cimo da pequena serra. Mas, mesmo aqui, o tiro saiu um pouco ao lado. Consta que a estrada tem uma inclinação superior ao permitido por lei e tem lá pelo meio uma curva demasiado apertada para ser segura e que choca, além disso, com uma área de serviços do aeroporto da Portela…
A Câmara não sabe ainda quando, mas uma coisa é certa, o viaduto vai mesmo ser demolido, já que não serve a ninguém. Foi construído em contrapartida de umas licenças de construção, agora a Câmara espera reaver algum desses 2 milhões de euros gastos, com o dinheiro que conseguir, em outros licenciamentos futuros de novas urbanizações no Forte da Casa e Póvoa de Santa Iria. Diz o jornal que, depois e a seu tempo, um outro viaduto será construído no mesmo local. Desta vez, uns metros mais alto, para não chocar com a serra.
Porque em verdade e bom rigor, a parábola em que a fé move montanhas não parece aplicar-se à engenharia civil, ou às obras públicas.
Sem comentários:
Enviar um comentário