terça-feira, 21 de fevereiro de 2006


I:
Sonhavas uma estrela peregrina
Uma clareira no meio da noite
O canto cristalino da guitarra
Uma cama de folhas e silêncio

E adoraste o fogo das palavras
Desafiaste o Tempo e seus mistérios
Meteste por desvios a horas mortas
Adormeceste em becos sem saída

Sonhavas uma estrada sem regresso
Súbita de pontes e surpresas
A vastidão serena dos desertos
A tranquila majestade das falésias

E a cada coisa que tocavas
Davas-lhe outro nome outro sentido
Era esse o teu tesouro o que tocavas
Em ouro se tornava o teu segredo


II:
Rasgaste numa noite a tua vida
Em gestos lentos todas as memórias
Num ritual de lágrimas contidas
Espalhaste assim ao vento a tua história

E o vento as misturou num rodopio
De frases sem sentido e de imagens
E o vento as arrastou por esse rio
De esquecimento p’ra outras paisagens


III:
Deve haver decerto qualquer coisa
Coisa que nem sempre é evidente
que se escreve a si própria qualquer coisa
Que apenas se insinua se pressente

Qualquer coisa que antes de ser dita
Já traz em si a razão verdadeira
Talvez nem eu a entenda mesmo escrita
Mas não podia ser de outra maneira

P’ra que serve dizes tu isso que escreves
Essa prosa em delírios alinhada
Coisas estranhas que nem tu próprio percebes
Para nada ora aí está mesmo p’ra nada

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