terça-feira, 21 de fevereiro de 2006

O EMPREGO DA CÂMARA DE AR DE AUTOMÓVEL
PARA POUPAR A SOLA DAS BOTAS
Um bocado de câmara de ar de automóvel (dos que só servem para remendos) se não estiver requeimado pelo uso ou pelo calor, póde durar, colado sôbre a sola das botas, mais dum ano, ao passo que a duração média da sola das botas é de um ou dois meses.
A ecónomia obtida não é só da sola, é de toda a bota, porque de cada vez que uma bota é solada, o meter-lhe a fôrma, coser, pregar etc. vai arruinando a bota rápidamente.
PROCESSO
Talham-se com uma tesoura meias solas num bocado de câmara de ar de automóvel.
Raspa-se bem raspada a sola das botas, com um vidro ou raspadeira própria, até que a sola fique perfeitamente aveludada, sem partes lisas ou polidas, e dá-se uma lixadela. Lixa-se, ou melhor, com uma groza de sapateiro ou mesmo de carpinteiro, lima-se bem a parte da câmara de ar que há-de assentar sôbre a sola, de maneira a tirar-lhe tambem todo o polido, e ficar áspera.
Lava-se com gazolina tanto a sola como a câmara de ar.
Feito isto, estendem-se bem sôbre a sola sucessivas camadas de cola de borracha, aplicando cada nova camada só depois de sêca a anterior, até que a camada sêca tenha a aparência de polimento, sinal de que a sola está completamente revestida de borracha.
Preparam-se ao mesmo tempo as meias solas de borracha, estendendo-lhe tambem algumas camadas da mesma cola.
Deixa-se tudo a secar umas horas, mesmo dum dia para o outro, e depois aplicam-se as borrachas sôbre as solas das botas, de maneira que não fiquem bolhas de ar entre uma e outra; feito isto bate-se com um martelo para aderir bem a borracha á sola.
Apara-se com uma tesoura a boracha que exceder a sola, e alisa-se o córte á volta com um bocado de lixa colada numa tábua.
Póde calçar-se imediatamente.
É necessário cuidado ao assentar a borracha sôbre a sola, porque logo que toquem uma na outra aderem de tal maneira que já não se podem deslocar.
Aos saltos é que não se pode aplicar a câmara de ar por que se corta rápidamente, mas póde pregar-se-lhe um bocado de protector (pneu) ou então os protectores de ferro ou borracha.
A cola vende-se em bisnagas nas garages; em latas de quilo, meio quilo e quarto nas lojas de sola.
Eu costumo prepará-la em casa; mando vir de Lisboa ou do Porto, da Companhia da Borracha, 50 gramas de borracha virgem, dissolvo-a com gazolina e tenho cola para muitas aplicações.
in: "Como eu luto contra a carestia de vida" de Ricardo Freire dos Reis, Major de Infantaria. Coimbra /França & Arménio, Editores - 1920

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