domingo, 19 de fevereiro de 2006


A mancha esmagada do pássaro no passeio
No cais
A velha sereia do mar estende os braços metálicos sobre as águas
Pesa-lhe o céu
Roça-lhe os flancos a pedra gasta
Ao longo da estrada
Do outro lado da rede
A fila interminável de vagões amarelos espera que a paisagem se ponha em movimento
Metralha a chuva o vidro do táxi
O pêndulo frenético do limpa pára brisas
Soa como um alerta de pânico
Os silos silenciosos cobrem-se de pó e sujidade

Passa a mão suja
Limpando o suor da nuca
O taxista
Merda de tempo
P’rá noite vai ser pior
Que se foda
Encosto esta merda e que se foda

O vento dobra a espinha da noite
Força-a a posições dolorosas
É dela o uivo aflito
Que entra p’las janelas

Ouça
E se for assim amanhã
Encosto esta merda e que se foda

A mancha esmagada
Do pássaro no passeio


6 dez. 00

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