sexta-feira, 5 de março de 2010

por favor, agora não... depois falamos.


O Público faz hoje 20 anos e  para celebrar a data saíu com uma edição especial...  E convidou António Barreto, para ser director por um dia. E uma das ideias que António Barreto teve e que consta mesmo que deu um certo trabalho lá na redacção, foi publicar a fotografia que marcou o ano... aliás, cada ano desses 20 que o jornal já leva de vida...
E em 2002, a fotografia eleita é assinada por Adriano Miranda e retrata, em grande plano, o rosto de Mário Cesaryni de Vasconcelos.
Diz a legenda: "eu nem acreditei quando me disseram que ia fotografar o monstro do surrealismo português..."   Acrescenta depois o fotógrafo que eram umas 3 da tarde quando chegou a casa de Cesaryni... "O artista dormia..." continua lembrando Adriano Miranda. "... dormia num quarto surreal, claro."   
Ora bom e claro porquê?!... E o que será um quarto surrealista?... não vamos entrar em especulações desagradáveis, mas é só a mim que dá a impressão que esta do quarto surrealista é a forma polida de dizer que o quarto de Cesaryni estaria assim um pouco, como dizer... desarrumadito e eventualmente mais para o sujo que para o limpo...?
Adiante.
O artista dormia, portanto... e  continua, o autor desta legenda que assina com as iniciais SBG.. continua dizendo que Cesaryni dormia e que continuou deitado para a fotografia. Deitado e de olhos fechados, como aliás se pode ver na foto que o Público hoje publica... Cesaryni, barba por fazer, olhos fechados e uma expressão de como quem aspira um longínquo perfume, ou quem escuta uma melodia distante... 
Enfim, foi ali mesmo no quarto e deitado na cama que Cesaryni se deixou fotografar, de olhos fechados.
A sessão correu muito bem e criou-se mesmo uma certa empatia entre fotógrafo e fotografado. Diz o articulista do Público que Cesaryni até perguntou a Miranda, o fotógrafo: "Queres um desenho?... " mas que depois reflectiu e rematou: "Talvez não, ofereço-te para a próxima quando nos voltarmos a encontrar..." o que se percebe depois que nunca chegou a acontecer. Cesaryni haveria de morrer 4 anos mais tarde em Novembro de 2006, como bem se lembram...
Portanto o fotógrafo do Público nunca chegou a receber um desenho de Mário Cesaryni, mas ganhou "a mais feliz e conseguida sessão de retrato de toda a carreira.." Palavras do próprio.
E remata o articulista e autor da prosa que enquadra esta efeméride escrevendo: "Por esta fotografia sentimos que Cesaryni nos topa bem, mesmo de olhos fechados."
E agora, se me permitem , preciso de algum tempo... e eventualmente de alguma concentração e silêncio para sentir como Cesaryni nos topa bem, mesmo de olhos fechados, nesta fotografia.  Portanto, por favor, agora não... depois falamos.

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