Vamos partir deste ponto assente, de que não seria muito razoável colocar, por exemplo, caixilharia de alumínio nas janelas do Mosteiro dos Jerónimos, por muito práticas e fáceis de lavar que fossem... e serve, esta entrada um pouco idiota, para lançar a história que se segue e de que o Correio da Manhã dá hoje notícia. Que Sílvio Berlusconi comprou, num antiquário de Roma, a cama onde Napoleão Bonaparte dormiu... consta que apenas lá dormiu 11 horas, mas isso não lhe tira nada do valor histórico. Aliás, diz o jornal, que a peça tem um valor inestimável... tanto, que a antiquária nem lhe divulgou o preço... o que disse foi que teve mesmo de se zangar, quando ouviu o 1º ministro italiano dizer que estava a pensar em aumentar a camita, fazer-lhe uns ajustes, ampliá-la um bocadinho...
Muita gente em Itália, personalidades mesmo, já se manifestaram horrorizadas com esta ideia polémica... O jornal recorda que o ano passado, a mulher de Berlusconi tinha confessado que Napoleão era o espírito inspirador do marido. Quanto a Berlusconi, ele próprio, terá dito, antes ainda, em 2006, que maior nos feitos, só mesmo Napoleão...maior nos feitos, que em altura, como o próprio Berlusconi fez questão de sublinhar... em altura, Napoleão era mais baixinho...
E isto é o que se passa actualmente em Itália... a polémica está instalada, mesmo admitindo que Sílvio Berlusconi acabe por deixar ficar a cama como está, sem remendos nem ampliações ad hoc...
E nós por cá..... Nós por cá, felizmente não sabemos... sabemos que muitos palácios e edifícios históricos, que poderiam estar abertos ao usufruto público, não só porque tem um bocado da nossa História, lá dentro, para contar, como e quanto mais não seja, pela sua própria beleza... estão entregues a instituições bancárias, ordens e corporações, que os adaptam às funções a que são reconvertidos... e desconfia-se também que muita da estatuária e azulejaria, que enfeita casas e jardins particulares, foi roubada ao património nacional, para ser vendida no mercado negro... isso, não se sabe... vai-se sabendo...
E foi ontem apresentado, no palácio da Ajuda, em Lisboa, o estudo encomendado pelo Ministério da Cultura.
O propósito do estudo era avaliar até que ponto o sector cultural e criativo é gerador de riqueza e de empregos em Portugal... é assim que o JN expõe a matéria... matéria a que também o Público dedica um destaque de quase página inteira. E o caso não é para menos, já que se concluiu, por exemplo, que no ano de 2006, o sector cultural, ou se quisermos, as indústrias da cultura geraram 2,8% de toda a riqueza nacional e criaram, ao mesmo tempo, 127 mil novos postos de trabalho... isto diz o Público, que o JN afirma que foram 308 mil... seja como for, parece ponto assente que sempre foram mais postos de trabalho do que os que se conseguiram criar, no mesmo espaço de tempo, nos sectores da imobiliária, têxteis, alimentação e bebidas... acrescenta-se também, que predominam, no caso das indústrias da cultura, as micro e pequenas empresas... em 87% dos casos, são empresas que empregam menos de 10 pessoas...
Agora, em números sonantes, a riqueza gerada pelo sector cultural, nesse ano de 2006, aproximou-se vertiginosamente dos 3700 milhões de euros, o que representa então uma percentagem de 2,8%, de toda a riqueza gerada em Portugal, nesse mesmo ano.
Ora, em relação a 2006, de momento, não vos posso adiantar grande coisa, mas , por exemplo, em relação ao ano passado, se bem se lembram, segundo Pinto Ribeiro, o anterior ministro, o orçamento para a Cultura não chegava a 1% do PIB... em 2006, também não haverá de ter andado muito longe disso... o que deixa a expectativa... perante este estudo ontem divulgado... que fazemos agora? Vamos, por exemplo, investir metade que seja dessa riqueza gerada... tomando 2006 como referência... daria 1,4%... mesmo assim o dobro dos tais 0,7% de que se queixava Pinto Ribeiro... quem sabe se investindo 1,4% se consiga um crescimento de... vá lá para não pedir muito... uns 4% e por aí fora... depois investia-se metade disso, para se chegar aos 6 e depois investia-se 3 para se chegar aos 9 e por aí adiante... ou então não.
Porque a necessidade aguça o engenho, pode também reduzir-se a verba para a Cultura, no Orçamento Geral do Estado... talvez assim, acossados pela necessidade, os criadores portugueses, a gente da cultura consiga o milagre das rosas ou faça nascer flores das pedras...
E de repente, lembrou-me, nem sei porquê, um certo pianista de jazz norte americano--- o nome não me ocorre, mas nem é essencial... para o que importa é que ficou na História, por ter alegadamente inventado uma escala cromática revolucionária e muito estranha, que os académicos estudaram e desmontaram e analisaram, para concluírem que o homem era um génio!... descobriu-se depois, porque o próprio pianista o confessou em entrevista, que a tal escala estranhíssima tinha uma explicação muito simples... é que foi inventada, em recurso, num piano que tinha sido apanhado no lixo e onde apenas algumas teclas funcionavam...
A tal escala estranhíssima era afinal o resultado de ter de tocar num piano onde muito simplesmente faltavam notas.
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