quinta-feira, 4 de março de 2010

Pode não resolver, mas pode ser que ajude...

Não vamos falar aqui de ritos de iniciação, praxes académicas, ou coisas dessas, que são muito interessantes e que se explicam e enquadram na História dos homens ao longo dos séculos e em todo o lado...  Há os mais violentos, há os mais estranhos... mas em todos os casos o neófito sabe ao que vai e aceita submeter-se à prova, porque o prémio justifica o esforço e até o eventual sofrimento... E não vamos falar disso, porque não é disso que se trata aqui. Antes talvez, da aberração desse conceito... Coisa mais violenta, que talvez mais não seja do que o retrato e o pulso da civilização a que chegámos... Vamos falar daquela violência, a que nem as próprias bestas se entregam... mas antes há que reflectir neste ponto.
Escolher uma palavra estrangeira para definir o que até aqui se chamava simplesmente violência, pode querer dizer qualquer coisa... que, por exemplo, esta violência de que agora se fala é de outra espécie, ou de outra ...violência, se me permitem a redundância.
Agora chama-se bullying e , atentando no étimo da palavra, descobrimos lá um toiro... um boi... bullying seria talvez o gerúndio de quando alguém se comporta como um animal, neste caso com a força e a violência de um boi.. ou de um toiro bravo, que soa mais apropriado... Acontece também que nestes casos há um pormenor que parece bastante importante.. é que o animal nunca ataca sozinho, ataca em grupo... e ataca sempre o mais fraco... não os mais fracos, mas o mais fraco... 
E tudo vem a propósito, como já devem ter calculado , do caso de Mirandela... ia a dizer da tragédia de Mirandela, porque é mais com isso que se parece... O miúdo tinha 12 anos e há já muito tempo que se sabia que era vítima de violência continuada física e verbal pelos colegas da escola... chegou a ter de receber tratamento hospitalar por causa disso. Na altura nem os agressores foram castigados, nem as agressões acabaram.  No princípio desta semana saiu da escola para se atirar ao rio Tua, onde tudo indica que tenha acabado por morrer... tudo indica que... já que o corpo ainda não foi encontrado. 
A notícia merece hoje algum desenvolvimento em quase todos os jornais. Foi-se falar com vizinhos, familiares, professores, associações de pais, psicólogos, colegas da criança...  O Diário de Notícias diz que a morte deste aluno de Mirandela vem abrir , ou melhor, reabrir o debate sobre bullying... adianta-se também que o Ministério Público está já a investigar o sucedido... que hoje serão ouvidos o Conselho Executivo da escola e a Associação de Pais.. aqui, refira-se que o presidente da associação de pais desta escola de Mirandela – a escola básica Luciano Cordeiro – garante que não há casos de bullying na escola... nunca ouviu dizer. Desentendimentos.!.. É assim que lhes chama e acha-os normais... diz que, de violência mesmo, nunca ouviu falar, nem nunca ninguém se queixou... isso é natural. Sabe-se que as vítimas destes casos raramente se queixam... por medo de represálias...
O jornal adianta ainda que nestes casos as escolas têm alguma relutância em reconhecer o fenómeno. Preferem minimizar a gravidade da situação.. por isso, acrescenta ainda o DN, a formação de professores e auxiliares de educação é essencial...
Enfim, os jornais trazem hoje muitos pormenores, declarações, justificações, explicações, definições e outras considerações à volta do assunto e deste caso muito em particular...
Mas regressemos à chamada de capa... é aí que se lê, logo em início de parágrafo, que os professores acusam as escolas de não actuarem e de ignorarem casos de humilhações entre alunos e querem mudar a lei...
Ora aí está como não se vai a lado nenhum... mudar a lei, se for para melhor, pois que se mude... de caminho, poderia também tentar mudar-se esta vertiginosa tentação de – quando soa o alarme - toda a gente desatar a acusar toda a gente, descartando-se de qualquer responsabilidade...
Ora vamos por partes. Se os professores começarem a explicar nas aulas e assim mesmo, do nada , se quiserem.. a explicar, que quem se junta em matilha para atacar um outro que está sozinho e é ainda por cima mais fraco...  quem faz isso ... é um cobarde, um fraco, uma coisa sem interesse, um merdas... é que os miúdos naquelas idades, coisa que não gostam mesmo é que lhes chamem mariquinhas.Pode não resolver, mas pode ser que ajude...

Sem comentários: