É verdade que lhe fica bem, o véu. A Ghada El Tawil, egípcia, jornalista e pivô da televisão. Fica-lhe bem, emoldurando-lhe o rosto de pele fina e rosada, os olhos castanhos de um brilho quente e meigo. Na fotografia, ela sorri para nós, com a expressão de um contentamento que só ela sabe e entende. Nós, sabemos só que ela acaba de vencer a batalha, em nome de Alá.
O que se passa, conta o Diário de Notícias, é que Ghada El Tawil estava afastada há 6 anos dos ecrãs, por causa de um certo braço de ferro com a administração do canal 5 de Alexandria. Porque ela insistia em usar o véu islâmico, durante a apresentação do telejornal. O canal 5 é do Estado e o Estado egípcio é um Estado laico. Daí a proibição, por razões estéticas, obviamente e depois porque, sendo o Egípto um Estado laico, não se justifica que as mulheres andem sempre, religiosamente, de véu na cabeça.
Seja como for, a jovem jornalista recorreu para os tribunais e os tribunais acabaram por lhe dar razão e aceitar, que usasse o símbolo islâmico no local de trabalho. É aliás uma tendência que vem a acentuar-se nos últimos tempos no Egipto. Há cada vez mais mulheres, pelo menos nas pequenas cidades, a aderir à moda – enfim, chamar-lhe moda pode não andar muito longe da realidade, mas soa, se calhar, um pouco mal, neste contexto – chamemos-lhe então, "o "Uso" do véu islâmico, o “hijab”.
Quanto a Ghada El Tawil… regressou ao trabalho, mas de forma um pouco discreta. Para já, só apresenta debates, mas está decidida a recuperar o posto que ocupou durante 12 anos, o de apresentar os telejornais, em horário nobre. E porque, diz, quando cobre o cabelo, não perde a capacidade para ler as noticias … Admita-se que não. Também se pode admitir, que, se tirasse o véu quando trabalha, também isso não chegaria para lhe enfraquecer a fé, ou desrespeitar o altíssimo, mas isto é só uma hipótese académica, claro.
O Diário de Notícias remata a prosa com a pergunta: “que razões levam estas mulheres a tomar atitudes que o Governo laico do Cairo tem dificuldade em aceitar?” Dá depois a resposta, pela voz da nossa protagonista. Diz a jovem Ghada el Tawil que, à medida que os anos passavam, começou a sentir que queria fazer o que deus queria… Queira deus, que deus queira e lhe peça mais qualquer coisa de realmente interessante, do que apenas andar de cabeça tapada com um véu…
Fica-lhe bem, é verdade, mas como profissão de fé, parece curto.
Depois, só falta ressalvar essa atitude do Governo do Cairo. Apesar de laico, admitiu e aceitou o uso do véu consagrado pela fé islâmica. Assim mesmo. Magnânime, compassivo, generoso… como um deus.
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