Deixem então que vos pergunte uma coisa... é que eu fiquei com a impressão que nesta prosa há duas palavras intrusas... não digo que tenha sido lapso de quem as proferiu, longe disso. Acredito que alguém com as responsabilidades públicas do nosso protagonista terá forçosamente um certo cuidado com o que diz, quanto mais, quando o diz em público e para o público.
Ora o público, neste caso, era jovem. Uma plateia de jovens que foi ouvir José Sócrates – é ele o protagonista - fazer o balanço de cem dias de governação e fazer o seu "mea culpa" sobre algumas reconhecidas falhas da governação anterior... reconhecidas pelo próprio, note-se. Como por exemplo, o investimento na agricultura... e na Cultura também.
Aqui, depois de prometer um novo estatuto para a carreira artística, ou se quisermos, para a profissão de artista... coisa que pode passar por lhe criar um regime próprio para a Segurança Social... depois disso, ou entretanto, o primeiro ministro reconheceu que foi fraco o investimento na cultura durante o anterior mandato... Disse - e podemos citar: “Houve uma área em que reconheço que não tivemos os progressos que se registaram em outras ... a cultura “... mas depois continuou, rematando o raciocínio desta forma surpreendente... disse Sócrates, em conclusão: "E hoje o desenvolvimento está também muito dependente da expressão cultural de uma sociedade."
E então?... Vou repetir: "E hoje o desenvolvimento está também muito dependente da expressão cultural de uma sociedade." E então?!... Ou seja – se tivesse dito que o desenvolvimento está dependente da expressão cultural de uma sociedade... sem os preciosismos do "hoje" e do "também"?... Soaria pior?
Diz ainda o Diário de Notícias que, na plateia, um dos jovens que interpelou o primeiro ministro foi José Luís Peixoto ... diz também o jornal, que Sócrates pareceu não reconhecer o escritor e até lhe trocou o nome e chamou-lhe Jorge, em vez de José...
O próprio, José Luís Peixoto, em breve entrevista de última página, ainda no DN, comenta o facto com esta frase: "Sócrates não me conhecer mostra falta de atenção à cultura.."
E é bem capaz de ser verdade, mas não teria ficado melhor se tivesse sido outra pessoa a dizê-lo, em vez do próprio?... Quanto mais não fosse por uma questão de modéstia. Ia quase a dizer... de elegância, bom gosto. Porra.
Sem comentários:
Enviar um comentário