terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

drogas...é comigo!

E o Público puxa para a capa esta espécie de guerra surda entre a classe médica e a Ordem dos farmacêuticos... Tudo por causa das assim chamadas smart drugs... drogas espertas... em linguagem chã... pílulas para estimular o cérebro, para lhe combater o cansaço e conseguir um melhor rendimento escolar... Porque é disso que se trata. De uma campanha promovida pelas farmácias dirigida aos estudantes universitários com problemas de memória e concentração. A classe médica critica, à partida, esta solução fácil para resolver o problema. Pelo caminho deixam-se também algumas reservas quanto à própria eficácia das drogas em causa... Fala-se do efeito placebo, fala-se de uma falsa sensação de bem estar que pode não corresponder a um desempenho adequado... Denuncia-se também o facto de que, mesmo os medicamentos que dispensam receita médica, não haveriam de ser objecto de campanhas publicitárias, nem anúncios nas televisões, ou , como é o caso, em cartazes afixados nas faculdades... Presume-se que o mesmo principio se aplique aos antipiréticos e analgésicos e anti-gripais em geral...

Do lado das farmácias, o argumento é criar uma ligação diferente ao consumidor. No caso, transformar as farmácias em locais de aconselhamento dos clientes. Um espaço – segundo Pedro Casquinha, em nome da Associação Nacional de Farmácias – "um espaço de saúde e bem estar de onde as pessoas saem com mais confiança, auto-estima e segurança."

Permitam-me o parêntesis... não vos começa já a cansar também um pouco ouvir falar tanto de auto estima e a propósito de quase tudo e mais alguma coisa?... Não? Então está bem... adiante.

Diz Pedro Nunes, da Ordem dos Médicos, que o que há a fazer é incentivar o estudo e não recorrer a soluções milagrosas de emergência e de efeito duvidoso.

Diz Isabel Brandão, médica chefe da Unidade de Psiquiatria do Jovem e da Família do Serviço de Psiquiatria do Hospital de S. João do Porto... só a apresentação.. hem?.. pois diz então Isabel Brandão, que não é nada aconselhável os jovens ( neste caso os jovens) recorrerem "a medidas muito imediatas e em que prevalece a ideia de uma resposta rápida para um problema e que, por outro lado, uma vida saudável e uma alimentação devidamente cuidada e equilibrada são suficientes para os jovens conseguirem competências cognitivas suficientes."

Diz ainda João Seteira Carlos, presidente da Associação Portuguesa dos Médicos de Clínica Geral, que o ideal é ajudar os estudantes a lidar com os testes e ensinar-lhes estratégia de adaptação, até porque o objectivo da medicina é apostar na prevenção e não na medicação...

E é capaz de ser já suficiente, o que fica exposto. Pelo menos o suficiente para ficarmos agora à espera de ouvir a classe médica manifestar-se igualmente quanto à prescrição – que muitos dizem francamente exagerada e nalguns casos quase irresponsável – de ansiolíticos e anti-depressivos e aparentados...

Drogas que não dispensam receita médica , quanto mais não seja porque podem ter efeitos tão devastadores, ou mais ainda, do que essas smart drugs... Com a agravante ainda de, neste último caso, o efeito mais evidente ser pôr as pessoas a dormir na forma e, em casos extremos, com uma bonomia e complacência próximas da idiotia.

1 comentário:

Peliteiro disse...

Esquecendo a opinião do Bastonário da OM, que não me merece credibilidade nenhuma, as farmácias podiam ter encontrado motivo melhor para dar a conhecer os serviços prestados aos jovens que a terapêutica farmacológica para a "concentração" e para a "motivação".