quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

afrontosa prepotência


Ora, diz aqui o dicionário, que um ditador é o magistrado que, em circunstâncias excepcionais, concentra em si todos os poderes públicos... diz-se também de um individuo que reúne temporariamente todos os poderes do Estado... em sentido figurado diz-se ainda da pessoa que usa de prepotência...
E hoje o Público trás o esclarecimento de Belmiro de Azevedo, que chamou, em entrevista à Visão, ditador ao presidente da República, Aníbal Cavaco Silva. 
Hoje, no Público, o empresário admite que podia ter sido mais cuidadoso na escolha das palavras e explica que falava em sentido figurado. Ou seja, para Belmiro de Azevedo, Cavaco seria um ditador "nesse sentido de alguém que exerce o poder de forma determinada ou mesmo fria, sem se deter perante emoções ou considerações de natureza pessoal."
Ora, aqui, já vimos que a definição de Belmiro de Azevedo se aproxima um pouco mais do significado que o dicionário apresenta como sendo o sentido figurado da palavra... Isso é o que com o que mais se parece... Dizia o dicionário, lembram-se, que em sentido figurado, um ditador é alguém que decide de forma prepotente. Estamos relativamente perto do cenário que Belmiro apresenta – o de quem decide com frieza e desapaixonadamente... Se bem que, quando se fala em decisões que não contemplam considerações de natureza pessoal, ou se deixam influenciar por estados de alma, ou impressionar com emoções...    poderia dizer-se que se está a falar de uma pessoa pragmática... e o pragmatismo – voltemos ao dicionário – o pragmatismo é a teoria segundo a qual, por exemplo, a verdade de uma ideia reside na sua utilidade. Define-se pelo seu êxito... para um pragmático a função essencial da inteligência  é, não de nos fazer conhecer as coisas, mas de permitir a nossa acção sobre elas...  e num cenário destes, emoções e paixões pessoais podem ser.. são quase decerto – um estorvo e coisa francamente inútil.
Mas regressemos a Belmiro de Azevedo... remata o Público a breve notícia, citando Belmiro de Azevedo, que "quem tem poder de decisão tem a certa altura de impor o seu critério não fazendo do diálogo e da procura de consensos um espartilho que o agrilhoa e o imobiliza." Enfim, esta passagem, do consenso ser um grilhão... é verdade, se a pessoa em causa partir para o diálogo já convencida que quer e vai fazer prevalecer a sua própria ideia e vontade e se depois, falhando esse intento, não souber conviver e assimilar a – chamemos-lhe assim - a derrota, a frustração.
De resto, pelo que fica alegado e exposto pelo próprio empresário em jeito de explicação, desculpa, justificação, ou o que seja...  pelo que fica dito...   se Belmiro acha que Cavaco só se revelou um pouco mais fechado ao diálogo em ocasiões pontuais, excepcionais... impondo o seu critério, afirmando a sua vontade sem contraditório, como o fez quando demitiu compulsivamente 4 ministros e em mais uma ou duas situações pontuais não especificadas...   pois isso quase que encaixa na definição, que o dicionário dá da palavra ditador... e sem irmos ao sentido figurado... ficando só pela passagem que fala nas circunstâncias excepcionais, em que alguém, um magistrado, no caso... concentra em si todos os poderes públicos, ou reúne temporariamente todos os poderes do Estado.
Percebe-se a delicadeza da questão...
É que o problema pode não ser tanto o ditador, mas o ditado...  Se alguém nos obrigasse a ser felizes prósperos e saudáveis...  quem teria o arrojo de contestar tão afrontosa prepotência?!...

Sem comentários: