quinta-feira, 30 de julho de 2009

I rritante

Fugiu da prisão e viveu 16 anos escondido nos montes, vivendo em grutas. É notícia no DN, no JN, no Público, no Correio, I, no 24… em todos, a bem dizer.

Sigamos o DN… Vieira do Minho. Fernando foi condenado a 10 anos de cadeia, por matar uma mulher, mas fugiu ao fim de dois anos e meio devido a ameaças de morte. Em Anissó todos sabiam que ele se escondia nos montes… Lê-se em sub-título… Ontem, a polícia judiciária de Braga acabou por prendê-lo.

No desenvolvimento da notícia ficamos a saber que toda a aldeia sabia que Fernando vivia escondido e fugido à Justiça, mas todos o protegiam e ninguém o denunciava.

Teve um dia mau… era como diziam, quando se falava do episódio que o levou à prisão…

E tudo se passou , segundo os autos, mais ou menos assim: Fernando, agora com 54 anos, era pastor. Vinha com o rebanho do pasto, quando se cruzou com a mulher, pastora ela também, que regressava do pastoreio. Pegaram-se de razões e no meio da discussão, Fernando acertou com a sachola na cabeça da mulher e matou-a.

O resto já se sabe. Fugiu da prisão ao fim de dois a anos e meio de pena cumprida e escondeu-se, desde então e já lá vão 16 anos, em várias grutas da região. A única companhia era um pequeno cachorro, que agora que voltou a ser preso espera que alguém cuide dele, com todo o carinho e atenção que um cão merece.

Consta, que era a população quem lhe dava de comer, quando passava por lá perto, à caça, ou assim… dava-lhe comida, algum dinheiro para café e cigarros, ou o que fosse… Consta também que, apesar da mãe de Fernando ser ainda viva e morar na aldeia de Anissó, ele preferiu, mesmo assim ,viver em grutas, com o cão, escondido da polícia. Consta também que acabou por se revelar até amistoso, depois do nervosismo inicial e alguma violência de reacção, quando foi ontem surpreendido pela polícia.

"Operação Cromagnon" – chamava-se ela, a acção que mobilizou 12 homens para deter o fugitivo.

Ora, o DN a completar e enquadrar a história foi conferir com uma psicóloga, o comportamento deste homem.

As respostas são elucidativas, a roçar quase a revelação mística.

O que pode levar uma pessoa que foge da prisão a viver 16 anos escondido em cavernas?... Responde a psicóloga, que neste caso se trata de um estilo de vida que pretende garantir a liberdade, mas que há casos em que a pessoa. cansada de um estilo de vida muito sobrecarregado, decide mudar de vida e escolhe um estilo de vida menos sobrecarregado. Vai, portanto, viver para uma caverna, com um cão!...

Depois, que consequências podem advir para o individuo após ter sido detido?

Responde a psicóloga, que após 16 anos a viver em cavernas e voltando agora para a prisão, numa primeira fase haverá que adaptar-se à nova realidade, o que também pode obrigar a mudanças de comportamento ou afectivas…

E numa segunda fase, o que acontece?...

Por último.

Vai ser necessário um acompanhamento mais próximo do detido?

E a resposta que diz que, nestes casos, qualquer acompanhamento que ajude na transição e que ajude a pessoa a integrar-se na nova realidade é uma intervenção que ajudará sempre a ter maior sucesso. Embora – sublinha a psicóloga – a pessoa, com o tempo, se vá adaptando ao novo estilo de vida…

A gente habitua-se a tudo. A verdade é essa!

Mas, a questão que se coloca, neste caso é a seguinte… era mesmo preciso ir incomodar uma psicóloga para recolher depoimentos destes… digamos assim, tão esclarecedores?


A publicidade. No caso, a publicidade enganosa.

Diz o jornal I, que o Instituto Civil da Autodisciplina da Comunicação Comercial – chame-se-lhe ICAP - concluiu que a ZON-TV Cabo está a fazer publicidade enganosa, ao anunciar que – citemos – ”já somos mais de um milhão de casas ligadas pela fibra da ZON”.

Acontece que o ICAP contou-as e concluiu que são apenas umas 100 mil, as casas que aderiram à fibra óptica da ZON TV Cabo. Daí se concluir que a publicidade induz os consumidores em erro e que, por isso mesmo, a campanha deve cessar de imediato…

Outro anúncio, que o I hoje publica é uma publicidade ao próprio jornal… No caso, à edição on line do próprio jornal… Daí o trocadilho… "Finalmente um jornal que não se dobra"… alusão óbvia ao ecrã do computador que, como sabeis é relativamente difícil de dobrar ao meio. O ecrã, claro, que se for um computador portátil... esses, geralmente, dobram-se ao meio, para fechar e levar para casa... Mas, adiante.

Em letra mais miúda, destacam-se as razões que ditam a preferência do leitor e a excelência do produto… e falo de produto, porque o próprio jornal prefere também falar de produtos, em vez de notícias. A ver: "textos, fotos, vídeos, áudios..."

E agora é que é… "Não somos um site de informação, mas um agregador de conteúdos…"

Logo a seguir, surge a pequena contradição… "Temos a nossa informação…" ora então!?, ainda há pouco não tinham, era só um agregar de conteúdos !… pois bem, prossigamos, que vale a pena... "...temos a nossa informação e a melhor da dos outros."

Vamos repetir mais devagar, para dar tempo a assimilar o conceito… "a nossa e a melhor da dos outros" a melhor da dos outros, pode não ser a expressão mais correcta, mas soa bem e é de fácil leitura.

Conclui-se o auto elogio, com a sentença: "Procuramos, investigamos, comentamos, citamos. Somos inclusivos e abertos ao mundo."

Rodeemos educadamente a questão do elogio em causa própria e o que se costuma dizer de quem o faz… Deixemos por agora os provérbios em paz... esse, do presunção e água benta, primeiro que todos e deixem só que vos relembre aquele episódio de ontem… o da manchete mistério do I... a que prometia dar a resposta do PS e PSD, aos alegados esbanjamentos de dinheiros públicos, que o I ontem dizia que vinha na página onde afinal se davam as novidades do mercado discográfico e videográfico e de jogos de computador...

Folheando pausadamente o jornal, o mais próximo que se consegue é ouvir Miguel Frasquilho, em nome do PSD, dizer que Guterres foi o campeão do despesismo, o campeão da engorda do monstro…

Ora, regressemos à publicidade… Finalmente um jornal que não se dobra…

A edição electrónica, pelas razões que já vimos, no entanto, a edição impressa parece que também não se dobra muito facilmente… pelo menos ao reconhecimento do erro. É que hoje, ninguém assume nem reconhece a trapalhada da capa de ontem. Ninguém a reconhecer que o I irrou. Irra, que Irrar é humano, porra. E uma certa dose de humildade e auto-crítica, também e é bonito.

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