sexta-feira, 4 de julho de 2008

Sobe a discussão, o protesto contra a eventual futura criação de um museu Salazar em Santa Comba. Um museu Salazar, ou um museu do Estado Novo, ou o que seja, foi contra isso que mais de 15 mil assinaturas se indignaram, entre elas a de José Saramago. E é justamente esse protesto, ou antes, esse abaixo-assinado contra a criação do museu que hoje sobe a S. Bento e a discussão parlamentar. A Petição foi entregue pela União dos Resistentes Antifascistas Portugueses, que classifica o projecto como um acto fascista. O projecto de criar um museu, obviamente, não o de o proibir, que isso é ainda uma questão em aberto.

Ora e de outros fascismos e polémicas nos conta o Público, a propósito desta réplica em cera de Hitler, no seu bunker berlinense.

A figura de Hitler dobrado sobre a secretária, numa sala mal iluminada, rodeado de livros e com um enorme mapa da Europa cobrindo toda a parede em frente. Hitler no seu bunker esperando o fim.

A figura de cera está a levantar grande contestação em Berlim. No museu de cera de Madame Toussaud. O museu exibe e reproduz a história da Europa através de figuras que, de uma forma ou outra, a protagonizaram. Tudo em ordem cronológica. Pois em relação a Adolf Hitler, há quem diga que é de mau gosto, representá-lo ou inclui-lo no museu, outros relembram que a lei alemã proíbe a reprodução de todo e qualquer símbolo nazi. O mesmo, obviamente para o próprio Hitler, símbolo vivo, mesmo morto, do próprio nazismo.

O museu defende-se, dizendo que fez uma sondagem e que entre as 75 personagens, ou figuras da história alemã, os alemães queriam ver Hitler, tanto quanto queriam ver Marx, Einstein, Beethoven, ou o guarda redes da selecção nacional de futebol, Oliver Kanh. O museu diz que a maior parte das pessoas reconhece, que não se pode apagar Hitler da História. Mais, há quem diga que ao perpetuar a imagem do ditador, mais ainda neste caso, num cenário tão emblemático e simbólico como o bunker onde tudo se precipitou e resolveu… ao fazê-lo, garante-se que a memória não se apaga, como quem diz que o erro não se repete.

Ora, para recriar a figura de Hitler no seu bunker berlinense, os técnicos e artesãos do museu Toussaud usaram mais de 200 imagens. Depois, a iluminação e o cenário completam o efeito de realismo que se pretende. Pois, sim, dizem os críticos… se querem saber como era de facto o bunker onde Hitler se escondeu e acabou por suicidar, é só andar uns dois ou 3 quarteirões.

É que o verdadeiro bunker fica mesmo só a alguns quarteirões do museu de madame Toussaud, em Berlim.

Depois, a polémica em Berlim á volta da figura em cera de Adolf Hitler… a polémica em Portugal à volta da futura criação de um museu de Salazar e do Estado Novo… são polémicas e como polémicas deveriam ficar.

Porque, a verdade é que – vamos supor o museu de História Natural, ou o de Antropologia… alguém acredita, que quem os visita deseja mesmo, ou sonha secretamente regressar à Idade das Cavernas e discutir o território e a sobrevivência, com mamutes e brontossauros?...

É capa no 24 horas e diz assim: “Crise leva cada vez mais mulheres à prostituição”.

Em ante-título, anuncia-se que lá dentro do jornal se vai contar a história de duas mulheres da classe média, que vendem o corpo para alimentar os filhos. “Pagam contas com sexo” – é o que se afirma logo à entrada do artigo de fundo. Duas páginas inteiras abertas ao assunto.

Escreve o 24, que são mulheres – estas de que se fala – que têm uma vida dupla, que nem os maridos sonham.

Inês Fontinha, responsável pelo NINHO, associação de apoio e acolhimento de prostitutas, acha que há sempre alternativa à prostituição, mas reconhece também que é bem verdade, o título do 24…. Há cada vez mais mulheres a recorrer a este tipo de actividade como forma de equilibrar, ou em muitos casos, fazer mesmo depender disso todo o orçamento familiar. Na maioria dos casos é por mor dos filhos, da educação dos filhos, ou de um pequeno mimo, que estas mulheres se entregam ao comércio do sexo. Inês Fontinha garante que nestes casos não há luxos, nem vícios ocultos para alimentar. É mesmo uma questão de sobrevivência. O chamado pãozinho para a boca.

E depois temos que foi um êxito incontestado, ontem em S. Bento nem um único partido teve dúvidas em saudar o estatuto de violação de direitos humanos, concedido à pobreza em Portugal.

Falámos disso, aqui mesmo, ontem, dia em que o assunto subia a aprovação parlamentar.

Recuperando rapidamente a história. A iniciativa partiu da Comissão Nacional Justiça e Paz e pretendia que a pobreza fosse considerada como crime de violação de direitos humanos e como tal fosse sancionado aquele, ou aquela, ou aquilo, que permita, facilite ou propicie situações de pobreza. Mas pobreza mesmo. Pelos padrões europeus – pobre é quem vive com 60% do ordenado médio nacional – em Portugal, isso dá pouco mais de 350 euros… e em Portugal – concluíram ontem os deputados – há que começar por definir qual o limiar de pobreza que se deve fixar como padrão nacional. Um valor que sirva de referencia obrigatória à definição e à avaliação das politicas públicas para combater e vencer este fenómeno.

Todas as bancadas estiveram de acordo. A pobreza expressa conduz à violação dos direitos humanos. Todos os partidos concordaram, que a Assembleia da República deve recomendar a avaliação regular das politicas públicas para erradicar a pobreza do mapa nacional. Concordaram que é necessário definir um limiar de pobreza em função do rendimento nacional e das condições de vida-padrão… e que tudo isso junto deverá servir de referencia obrigatória, à definição e á avaliação das politicas de combate á pobreza…

Do resto, já vimos, quem – por intenção expressa, ou laxismo e indiferença - permitir que a pobreza em Portugal desça abaixo da linha vermelha, deverá ser exemplarmente sancionado. Como, não se sabe ainda. Mas deve. Por atentado aos direitos humanos.

O que se sabe – enfim, o que fica bastante claro, se bem que implícito é que corremos o risco de ficar sem Parlamento nem Governo, nem Empresários e se calhar até sem Sindicatos… corremos o risco de os ver exemplarmente sancionados. Como e por quem, não se sabe, mas sancionados, na mesma.

Porque, em verdade são todos eles, e cada um à sua maneira e no seu pelouro, os verdadeiros responsáveis pela pobreza… tanto quanto o seriam, de certa forma também pela riqueza, se fosse esse o caso. Porque a verdade é esta: os trabalhadores trabalham, depois, o que se faz com o produto desse trabalho, ultrapassa-os folgadamente, pela esquerda, pela direita e o mais das vezes sem buzinar nem fazer pisca-pisca.

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