segunda-feira, 30 de junho de 2008

Há de ser sempre e forçosamente uma boa notícia. Apesar de não ser a primeira reivindicação, que surge à ideia, quando se pensa naquilo de que se queixam professores , pais e alunos das escolas portuguesas... Mas continua a ser uma boa notícia. Sempre e forçosamente. Que o ministério da educação celebra hoje um protocolo com diversas empresas das áreas das Tecnologias de Informação e Comunicação, que visa implementar – estou citando da breve do Público, que eu não falo assim: “implementar”, mas adiante… implementar 30 academias TIC (que é a sigla das tecnologias de Informação e Comunicação: TIC…) 30 academias TIC em outras tantas escolas. O investimento é de 400 milhões de euros e até 2010, o Plano Tecnológico de Educação prevê instalar mais de 300 mil computadores, 9 mil quadros interactivos e 25 mil videoprojectores, nas escolas públicas nacionais.

Nas que tiverem infiltrações, ou outros problemas, recomenda-se cuidado especial com os computadores, que aquilo é material que se apanha água, estraga-se logo.

E já que estamos no universo dos computadores e da mais moderna tecnologia…

Temos então aí o primeiro caso de um blogue suspenso por ordem judicial.

O caso envolve dois autarcas da Póvoa de Varzim, que se sentiram ofendidos e caluniados por um blogue que os acusava de corrupção .

O tribunal deu razão ao protesto, a Google foi obrigada a impedir o acesso ao site e o blogue foi encerrado ao público. É a primeira vez que isto acontece em Portugal, se bem que já tenha havido mais gente a queixar-se e a tentar acções em tribunal por causa da mesma coisa. Por se sentir ofendido, ou difamado…

Os dois visados nas críticas acusam a cobardia de quem se esconde por trás do anonimato, para escrever o que lhe apetece e insultar as pessoas. O blogue em causa chama-se “Póvoa on line” e é assinado por um tal Tony Vieira – pseudónimo colectivo dos autores. No entanto e apesar do anonimato denunciado pelos queixosos, o jornal Público conseguiu falar com um dos colaboradores do blogue. António Pedro Ribeiro – afinal não é tão anónimo assim … Para este bloguer, estamos perante uma atitude prepotente, autoritária e fascizóide.

Para o tribunal – “dentro do juízo de probabilidades necessário para o tipo de providência em apreço…” – uma vez mais, eu não falo assim, é o que está aqui escrito – o tribunal considerou então provado “que a maior parte do conteúdo do blogue consistia em artigos de opinião.” Ora então, chegados aqui, e pela mais elementar aritmética semântica, estaríamos portanto perante um delito de opinião. Ou talvez não, que mais adiante lê-se que o conteúdo, ao atentar contra o direito à honra, à credibilidade, ao prestígio e à confiança dos autarcas visados – isto perante os restantes pares na Câmara Municipal, perante o povo da Póvoa e até perante o País – que em verdade, nunca haveria de dar por nada, não fora agora o processo ter seguido para tribunal, com este barulho todo…

Portanto, ao atentar contra o direito à honra, à credibilidade, etc… dos queixosos, o tribunal considera que, apesar de considerar o texto como artigo de opinião, ele extravasa claramente o núcleo do direito à liberdade de expressão.

A liberdade de expressão é o diabo, toda a gente sabe disso. Ou quase toda.

Neste caso - e voltemos às citações em discurso directo - Aires Pereira, um dos queixosos autarcas da Póvoa de Varzim, o que acusou de covardia, quem se esconde por trás do anonimato, só quer uma coisa. Citemos: “A minha expectativa é que a sua identidade seja identificada e que se lhe exijam responsabilidades.”

O pormenor da identidade identificada, que o Público sublinha, citando entre aspas o autarca, é obviamente uma figura de estilo, para reforçar essa expectativa. A sua veemência e inabalável determinação.

Mas é uma ansiedade inútil. O próprio jornal desfaz o mistério. Um dos colaboradores do blog insolente chama-se António Pedro Ribeiro. Até eu já lhe fixei o nome e não sou da Póvoa.

E paremos agora na manchete do Diário Económico desta segunda feira. Diz assim: “Portugueses endividam-se para adiar efeitos da crise.”

Continua o sub título, dizendo que, a 3 dias de nova subida dos juros, a situação do crédito em Portugal se agrava. Os portugueses, que são já os mais endividados da Europa, foram os que mais pediram emprestado, para manter o padrão de consumo.

A história continua, nas páginas interiores… Que o crédito para consumo em Portugal cresceu até se tornar actualmente o quarto maior da zona euro. Os economistas admitem uma situação de risco, para estes consumidores. Parece óbvio que não seria preciso ser-se economista para se chegar a uma conclusão dessas. João Paulo Calado, economista citado pelo Diário Económico, afirma que as pessoas, os portugueses, não aceitam ficar mais pobres por causa da subida da prestação da casa e que, por isso, conclui-se, recorrem ao crédito, mesmo que isso conduza a uma situação de endividamento insuportável. Ou seja, segundo o Económico, em Abril, o incumprimento das dívidas terá disparado em 60%. Em números redondos, dados do Banco Central Europeu mostram que, em finais desses mesmo mês de Abril, o total acumulado de crédito para consumo se aproximou dos 15 milhões de euros. O ano passado, a defesa do consumidor recebeu 2 mil pedidos de ajuda, de pessoas com dívidas que não conseguiam pagar. Um número superior, em mais do dobro, ao do ano anterior.

Depois, em caixa e em destaque, ficamos a saber que a confiança dos portugueses está em queda livre, atingindo agora o valor mais baixo desde Maio de 2003. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, publicados no fim da semana passada, a confiança dos portugueses continua a cair e, sem duvidar desta última constatação, caímos numa aparente contradição. Como é que, com essa vertiginosa perda de confiança, alguém se lança a contrair empréstimos ao banco, sabendo ainda mais que as taxas de juro estão para aumentar, o que vale por dizer que, cada cêntimo que pedirem emprestado, lhes vai custar mais caro do que já custava até agora?!... Porque é que se lançam a pedir dinheiro emprestado, que sabem que não vão conseguir pagar, pelo curso natural em que a economia se vai mexendo?

O jornal diz que é para adiar os efeitos da crise. Diz o jornal que é para preservar os padrões de consumo. Note-se que não se fala em qualidade de vida, ou sequer em manter os limites mínimos de dignidade e decência… fala-se em padrões de consumo, o que é já bastante vago e suspeito. E será então por isso, que os portugueses se lançam a contrair empréstimos a instituições que, como resposta à tão proclamada crise internacional, o que fazem é subir as taxas de juros, como quem vende correntes de ar a uma família com gripe.

E depois a questão da perda de confiança... Diz o jornal, que a confiança dos portugueses está em queda livre… Pois não parece. A avaliar pela corrida cega ao crédito, mais parece que, os portugueses estão é completamente encandeados por uma qualquer luz ao fundo do túnel. Só que neste caso, a luz que brilha ao fundo do túnel, é a do comboio que os vai atropelar.

Perda de confiança, ou confiança a mais?...

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