terça-feira, 1 de julho de 2008


Profissões de fé. Há essas, que são consensual e universalmente consideradas como tal. É o caso do sacerdócio religioso e há as outras. Ou deveria. Acho eu. Falo do ensino, da medicina. São profissões que, ou a gente está mesmo convencido que é aquilo que quer e dispõe-se a dar a alma e todo o tempo do mundo para a tarefa – diria – para o sacerdócio, ou então mais vale ficar quieto, ou escolher outro ramo. Porque são matérias muito sensíveis e importantes. Profissões, onde não se pode a gente ficar pelo contentamentozinho de ser chamado doutor, ou ser remunerado com algum privilégio especial. No caso dos professores, este será um privilégio quase virtual, mas adiante. Fiquemos pela medicina. Diz o Diário de Noticias, em destaque de página inteira, que os médicos podem vir a ser avaliados, ou melhor, remunerados por objectivos.

O Observatório Português dos Sistemas de Saúde fez o diagnóstico e acha que encontrou uma hipótese de solução, para travar o deslocamento dos médicos, do público para o privado. É avaliá-los por objectivos. Citemos o coordenador do Observatório, o médico Pedro Lopes Ferreira. Diz assim: “remunerar os médicos não só através de indicadores de produção estabelecidos previamente, mas também consoante os níveis de saúde da população, tal como acontece hoje com os diabéticos, ou com as grávidas, cada vez mais controlados”.

O relatório vai ser hoje apresentado. O Relatório da Primavera, redigido pelo Observatório dos Sistemas de Saúde. Sublinha-se, que o sistema de saúde deve ser orientado para o cidadão. Para quem é que poderia ser, senão para o cidadão?! Esta parece quase desnecessária. Depois continua-se dizendo que " a falta de atenção aos profissionais leva à ineficiência, à baixa produção e à iniquidade”. Diz-se que a solução é “trabalhar com os médicos num processo de contratualização”. “Em troca de um orçamento…” – continua o texto da notícia, no DN – “… em troca de um orçamento deve haver a responsabilidade pela produção de alguns actos, sejam consultas, cirurgias ou o acompanhamento de doentes crónicos”. Segundo o relatório, essa avaliação não está a ser feita de forma eficiente. A informação que chega … não chega. É insuficiente. Sabe-se, por exemplo, que, apesar de haver uma comissão nomeada para o efeito, pouco se sabe sobre a gestão dos recursos nos hospitais públicos e nos hospitais empresa. Nestes últimos, sabe-se, no entanto, que o mais notório é o número impressionante de nomeações, para cargos administrativos. Por exemplo, em 8 dos hospitais avaliados, e nos últimos 7 anos, houve 22 conselhos de administração nomeados, 21 presidentes, 37 vogais. Mudanças que coincidem quase sempre com mudanças de governo.

Mas fixemo-nos no título da notícia. “Médicos deveriam ser remunerados por objectivos”. Ora, o objectivo último de qualquer médico é salvar a vida do doente, curá-lo das maleitas mais ou menos graves de que padece. Esse é o objectivo e o juramento que lhe é imposto, como condição exclusiva. Não haveria de ser preciso, lembrá-lo a ninguém. Ora então neste cenário presente, ou próximo futuro, pretende-se que os médicos sejam melhor ou pior remunerados segundo a aplicação à causa e segundo os resultados conseguidos. Será mais ou menos isto.

Tomemos então por absurdo o drama do médico, que se especializa em doenças francamente complicadas, onde a taxa de morte é ainda muito elevada… Esse médico está em clara desvantagem, em relação a um outro, que só trate de constipações ou doenças dos nervos. Tem, pelo menos, uma taxa de insucesso, garantida à partida, consideravelmente superior aos especialistas em dores nas cruzes.

Por outro lado, lembrar aos médicos o dever de se aplicarem, de alma e coração e mais o que for preciso, à missão de cuidar da vida e da saúde de todos, incluindo os que não têm dinheiro para se internarem em clínicas ou hospitais particulares... mais que isso, gratificar com remunerações mais interessantes, os que o fazem, como se, fazê-lo, fosse uma coisa do outro mundo e de que ninguém poderia estar à espera, muito menos de um médico… isso sim, parece um pouco estranho. Para dizer o mínimo. Porque, se há profissões em que toda a vaidade deveria ser castigada... A medicina poderia bem ser uma delas.

Um jogo de ténis com Tony Blair, um almoço com Alex Fergunson, ou um passeio de Bentley com o antigo ministro inglês da defesa. Estes são alguns dos recursos a que o Partido Trabalhista está a lançar mão, para equilibrar as contas e o passivo.

O Labour tem uma dívida acumulada de 30 milhões de euros e para salvar o partido da bancarrota, alguém teve essa ideia peregrina de leiloar , on line, coisas tão insólitas como essas – almoçar com o treinador do Manchester, ou – o lote mais cobiçado – uma partida de ténis com o antigo primeiro ministro Tony Blair. Todas as condições de acesso ao leilão estão disponíveis na página do Partido Trabalhista inglês, na Internet.

Apesar da tentação ser grande, deixo-vos o prazer de imaginar como seria se o tentássemos também em Portugal, para equilibrar as contas públicas.

E vamos a contas. As missas vão passar a custar 10 euros. Custavam 7 euros e meio e vão passar a custar 10 euros. Nada de mais, tendo em conta que tudo sobe de preço, quase todos os dias, nos dias que correm. Só que, no caso das missas, a situação é outra e não tem nada a ver com o custo de vida, com a conjuntura macro económica, a crise internacional, ou mesmo o preço do vinho sacrificial. O que se passa é que, por ordem do Vaticano, a tabela de preços dos serviços religiosos tem de ser actualizada de 5 em 5 anos. Seja qual for a situação económica do mundo, ou do país, onde os actos se celebram. No caso português, consta que a tabela não era actualizada há uns 8 anos, já… É de toda a justiça, portanto. Mas o curioso, diria mesmo o espantoso, é que o aumento dos preços dos serviços religiosos parece mesmo desligado de toda a convulsão social, ou económica do sítio, onde a Igreja se integra e faz o seu apostolado. Ou como alguém já disse: o meu reino não é deste mundo.

E entretanto… o papa não veste Prada. Não senhor. Vem em título no Diário de Notícias, citando o Osservatore Romano. Esta história do Papa vestir Prada tem a ver com os sapatos vermelhos que Bento 16 costuma usar. Diz que o vermelho representa o sangue dos mártires e havia quem dissesse que eram sapatos fabricados pela famosa marca de alta-costura. Pois o Osservatore Romano garante que não, que não são Prada, são Cristo. Ora o Cristo de que se fala, foi ele o autor dos sapatos do Papa? Não. Os sapatos do Papa, descobre-se já no fim do artigo, são de um tal Adriano Stefanelli. O Cristo citado em título, não será nenhum costureiro famoso, mas neste caso, presume-se que seja o próprio Cristo de Nazaré, mentor e guia espiritual da Santa Sé e de toda a cristandade. Ora portanto é este Cristo que o Osservatore Romano garante que veste o papa, ou que o papa veste. O que, para todos os efeitos, vai dar ao mesmo. Ao mesmo disparate, obviamente. Convido-vos a fazer um pequeno esforço de memória, para descobrir a imagem, o quadro, o fresco, o tríptico, a gravura, a aguarela, a iluminura, em que Jesus Cristo seja retratado de sapatinho vermelho de verniz e chapelinho bordado a ouro…

Descobriram alguma ?!...

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