Comecemos por aqui. Há provavelmente tantas razões e circunstâncias, que ditam a riqueza de uma pessoa, como a sua pobreza. Tantas quanto e, provavelmente também, tantas como. Ou seja, as razões podem ser as mesmas, se bem que se manifestem, na vida de cada um, de forma diferente e inversa, mesmo. Isto é óbvio e quase redundante.
E vem isto a propósito do apelo do Papa. Bento 16 apelou ontem aos países mais ricos – que hoje se reúnem no Japão, em mais uma cimeira do G8 - para que se envolvam na luta contra a pobreza e a fome no mundo.
Foi na celebração semanal do Angelus, que o Papa insistiu, para que os mais ricos coloquem esse combate como prioridade nas respectivas agendas.
Ora então, vejamos. A luta contra a pobreza e a fome no mundo não me parece que seja luta para os mais ricos e de barriga aconchegada.
Os mais ricos podem estar vagamente, ou mais empenhadamente, solidários com a luta dos pobres, contra a sua própria pobreza. Os mais ricos podem também financiar, alimentar essa mesma pobreza, como garante da sua própria prosperidade. Os mais ricos podem igualmente gerir essa crise, à proporção e passo das suas conveniências e economias próprias. Os mais ricos podem até escoar para esses mais pobres algum excedente de produção, como forma de os manter vivos e no limiar da necessidade, da dependência de ajudas externas. Como forma também de aquietar algumas más consciências. Os mais ricos podem até, num rasgo de alguma ingenuidade e altruísmo, dar qualquer coisa mais que bons conselhos, ou instruções de boas práticas, para esses países e povos saírem da miséria. Mas a luta contra a pobreza pertence aos pobres. Os ricos, o mais que podem fazer é lutar contra a sua própria riqueza.
Ou antes, lutar contra o excesso. Contra essa doença infantil e egoísta de querer tudo, mesmo aquilo que não se vai ter tempo de vida suficiente para usufruir ou gastar.
Porque a questão está longe de reclamar que todos fiquem pobres, ou mais pobres, para equilibrar a balança. O que está em causa é que, o desperdício, aquilo que nos sobra chega bem para acabar com a fome no mundo, de um dia para o outro. Sem sofrimento.
O que está em causa, é que há meninos que crescem a querer os brinquedos todos só para eles e não deixam mais ninguém brincar.
O que está em causa, se calhar, é que, quem enche a boca com estas cruzadas redentoras, nunca passou realmente fome, nem faz ideia do que é ser pobre a sério.
Ou seja, pedir aos países ricos que lutem contra a pobreza, soa quase como pedir a um ditador que convoque eleições livres e multipartidárias, no país que governa.
Estoutra vem no JN e remete-nos para a cidade transmontana de Valpaços.
O padre Manuel Alves calou o sino do campanário em protesto contra o Café Central, que, na opinião do padre, faz má vizinhança e é mau exemplo. O Café Central fica portas meias com a igreja e com a casa paroquial. O padre queixa-se do barulho, que não o deixa dormir. Queixa-se também que, lá dentro, se passam coisas pouco próprias , como – citando o padre Manuel Alves – “desfiles de mulheres nuas.”
Por isso, e em protesto, resolveu calar o sino da torre. Durante um mês inteiro. Ou pelo menos até o café fechar as portas. Quanto à casa paroquial, diz que foi obrigado a pô-la à venda, enquanto ia fazendo a sua campanha contra o Café Central , da tribuna que lhe cabe – o altar da missa.
Acontece que, o café foi fechado pela ASAE. por causa de umas licenças em falta, mas o proprietário diz que o volta a abrir, assim que esse assunto se resolva. Quanto ao protesto do padre, o dono do café diz que tudo começou no fim de Maio, quando o café se abriu para uma festa de finalistas, que durou até ás 9 da manhã. Foi nessa altura, que o padre endureceu o discurso, difamando o Café e avançando com a tal acusação, do desfile de mulheres nuas… Diz o dono do café. Que diz mais… diz que sempre respeitou a vizinhança – no caso, a igreja - e que, durante o mês de Maria, na hora do terço, desligava a música e a televisão, para não incomodar o culto. Ora aí está uma coisa que - a ser verdade – é louvável e muito pouco comum. Quanto às insónias do padre Manuel Alves… Pois razão terá de se queixar, mas parece de um à vontade curioso, este, de, para reclamar um direito individual – no caso, o direito sagrado, admita-se, ao descanso – se utilize uma arma, ou neste caso, um estratagema – calar o sino – que é de usufruto de todos. Ou seja, o sino da igreja de Valpaços não é do padre Manuel Alves. O sino é da Igreja e a Igreja é dos fiéis filhos de deus. Deles todos. Mesmo os clientes do Café Central de Valpaços.
A César o que é de César!
1 comentário:
grande malaquias pá...
há quanto tempo!
vai dizendo
um grande abraço
zé diogo
algueirão
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