quinta-feira, 24 de abril de 2008


“Boneco de Adolfo Hitler escandaliza ucranianos”.
É o que diz o título da pequena notícia do Público. Pequena, mas com direito a fotografia, não fosse pensar-se, quiçá, que o boneco em causa fosse eventualmente algum brinquedo, memorabilia dos tempos de infância do ex ditador.
Do que se trata é de um pequeno boneco, de uns 40 centímetros de altura, em material plástico, como as Barbies e os Action Men, só que representa a figura do próprio Adolf Hitler, bigode e tudo. Bigode e guarda-roupa. Camisa e chapéu castanhos, fardas do início da carreira de Hitler, uniforme de guerra, com medalhas e galões. Ora acontece que o boneco deve sair para as lojas no princípio deste Verão, mas já está disponível em Kiev, em algumas lojas para coleccionadores e a polémica saiu para as ruas.
Três milhões de ucranianos podem ter morrido durante a 2ª Grande Guerra e essa memória é dolorosa e difícil de apagar. A maioria dos símbolos e imagens que invoquem ou façam lembrar Hitler e o nacional-socialismo são proibidas na Ucrânia, bem como toda a representação, considerada positiva, do regime nazi.
Acontece que, segundo um jornalista ucraniano terá dito à BBC, o governo de Kiev está a tomar medidas que podem levar a algum revivalismo neonazi, como ter distinguido recentemente um ex oficial do exército hitleriano com a medalha de Herói da Ucrânia. Isso pode levar as crianças a desejar ter em casa, não a reprodução do tal herói nacional ucraniano, mas a do próprio comandante em chefe, que o inspirou e conduziu.
Uma cidadã de Kiev, entrevistada pelo Público, terá dito que a ideia do boneco é parva - são estas as palavras reproduzidas pelo jornal. Uma ideia parva. Diz ela que todas as famílias ucranianas sofreram com os nazis e se hoje alguém comprar o tal boneco de que se fala… será mesmo e só para mostrar que o pode comprar.
O que, enfim, não será mau de todo. Saber que estão todos vivos, que o pesadelo já passou e que hoje têm saúde e poder de compra para gastar em bonequinhos de plástico com a efígie do próprio diabo.
E essa é uma comparação tudo menos casual. Que, com todo o respeito pela memória dos que sofreram e morreram aos pés da bota nazi, proibir a representação do diabo não lhe acaba com a raça e a peçonha.

De outra bonecada catita nos dá hoje conta o 24 Horas.
Diz assim, à laia de título: “Teixeira Pinto vai assinar contracto de pintor.”
Teixeira Pinto, se se lembram, já foi administrador do BCP, saiu e agora, diz que por insistência dos amigos, resolveu divulgar os quadros que foi pintando, por gosto e vocação, ao longo do tempo - consta que alguns deles terão mesmo sido pintados no pequeno atelier que montou no escritório do banco… foi o que li , não hoje, mas li.
Hoje, diz o 24 Horas que Teixeira Pinto assinou, ou vai assinar, um contracto de pintor. Enfim, se não soubéssemos do que se está a falar nem nos fosse familiar o nome da personagem em questão… um contracto de pintor, só assim… mais rapidamente nos remeteria para a construção civil do que para as Belas Artes, mas, não. É de Belas Artes que se fala. E diz o jornal que o galerista Agostinho Cordeiro, dono de uma das, diz o jornal que, mais conceituadas galerias do Porto se prepara para assinar um contracto com, diz o jornal, Teixeira Pinto. O galerista, esse diz que, com toda a justiça, temos pintor! E de primeira água! O galerista afirma mesmo que é sem reservas que poderá expor Teixeira Pinto ao lado de Antoni Tapiés, o mestre catalão e actualmente considerado como o melhor pintor do mundo, ou Vieira da Silva, ou outros de igual estatura e prestígio!!!
Ora aí está uma descoberta quase tão surpreendente como a notícia de que Carolina Salgado se prepara para escrever um 2º livro, na sua curta mas já auspiciosa carreira de escritora…


Sem fugir muito ao tema, saltemos no entanto de jornal. No Diário Económico não é novas vocações, ou talentosas revelações que se trata, mas antes de como sobreviver com sucesso em meio laboral assalariado, em geral.
Na página 57 ao canto diz assim: “Carreiras”.
É de carreiras que se fala. Que fala a jornalista Rita Saldanha da Gama. E escreve ela que mentir no escritório pode trazer benefícios. São portanto dicas para sobreviver com êxito em meio laboral. Começa por avisar que é aí, no trabalho que a maior parte das pessoas passa um terço da vida.
Ora para vencer sem sofrimento na progressão profissional recomenda a jornalista:
Não estar sempre do contra, mesmo que se ache que as ideias do chefe não têm pés nem cabeça, ou são mesmo um perfeito disparate.
Fazer um esforço para ser compreensivo, respondendo sempre com evasivas e expressões dúbias, pouco claras.
Usar o maior número possível de clichés, frases feitas, banalidades… juntar ao arrazoado quantidade q.b. de termos técnicos e palavrões arrevesados, palavras difíceis, para dar um ar entendido.
Aconselha-se também a tratar toda a gente pelo nome, para dar um ar de quem se interessa realmente e… delegar.
Delegar, delegar e delegar… o que também deve dar um ar de quem se preocupa com alguma coisa.
A intenção é das melhores e pode estar cientificamente comprovada.
Se esta é a imagem de um trabalhador cordato e bem sucedido… vista assim de repente, parece mais o fotolito de um cretino.

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