terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

oh Lopes, 'tamos contigo, pá!

Diz-se, é costume ouvir-se dizer, que uma imagem vale mais que mil palavras. Admitamos. Mas, admitamos também, que ele há imagens que nos deixam… sem palavras.
Ora Santana Lopes… Pedro Santana Lopes, líder parlamentar da bancada social-democrata, saiu em presidência aberta – foi assim que ouvi chamar-lhe ontem, nos telejornais – em presidência aberta, portanto (e a eventual confusão, que o epíteto possa causar nas populações, é outro assunto a que iremos, de passagem, mas não para já).
Para já, há que concordar que, como defende Santana Lopes, os políticos devem sair para o terreno, de vez em quando que seja, a tomar o pulso ao país real. A sentir o pulsar do povo e suas angústias e desejos mais urgentes… Terá sido isso, que levou Santana Lopes mais comitiva parlamentar a visitar ontem o distrito de Castelo Branco. E foi nessa ocasião que os jornalistas lhe perguntaram coisas como, por exemplo, o que pensava da demissão do director nacional do INEM. Questão que, pode ser que não, mas desconfio, que ninguém se teria lembrado de perguntar ontem a Santana Lopes, se não fosse o facto de o terem acompanhado nessa visita ao pais real.
Agora, quanto à auto-proclamada presidência aberta… também pode ser que não, mas também é bem provável que sim, que um habitante de uma qualquer terra desse interior esquecido e abandonado, ao receber tão ilustre visita em presidência aberta – a preocupar-se realmente com isso - lhe salte à memória outras presidências abertas, próximas passadas… Mário Soares… Jorge Sampaio… presidentes, eles também ,mas não de nenhuma bancada parlamentar, senão da própria república portuguesa. E assim sendo, se a confusão tivesse tempo e paciência para se instalar, já se tinha instalado, ontem, em Castelo Branco.
Mas não é isso que prende a atenção deste vosso humilde narrador… é a fotografia que ilustra o acontecimento, nas páginas do “Diário de Notícias”. A fotografia. A fotografia de Pedro Santana Lopes – preocupado com o interior – segundo atesta a legenda.
Ora então a fotografia. O fato é de bom corte. Distinto e discreto. Azul com riscas finas e verticais de tom mais claro. A gravata, azul muito clarinho, quase branco, a dizer com a camisa. O fundo é indistinto, mas dá para perceber que é no campo… Percebe-se, esbatidos em fundo, os finos ramos de alguma vegetação e, em primeiro plano, o que resta do tronco de um qualquer pequeno arbusto, partido pelo meio.
Santana Lopes, preocupado com o interior, pousa para a fotografia, segurando, ele próprio, um pau. Um cajado de pastor? É provável. De pastor será, eventualmente, também a manta de lã, que Santana Lopes segura, com a mão esquerda, equilibrando-a sobre o ombro. Manta irrepreensível, ela também. Às riscas, em tons de beije e castanho. Irrepreensível mesmo, como se tivesse acabado de sair da loja, directamente para o ombro de Santana Lopes.
A expressão … será de preocupação, como diz a legenda?... Será? Santana Lopes olha de lado e para cima, para fora de campo. A boca deixa descair os cantos dos lábios, desenhando-lhe uma expressão difícil de classificar, mas que foge a todos os parâmetros conhecidos, quando se fala em expressões de preocupação. Não diria que se trata de um sorriso, que ficou a meio… É talvez uma outra qualquer coisa, quase tão enigmática como a própria Gioconda! Ou talvez seja a expressão de quem está a ouvir, atentamente, para depois tomar as decisões, de que o título maior da notícia fala: “Santana no terreno a ouvir para preparar decisões.”
Seja como for, e à primeira leitura, há ali qualquer coisa que está a mais… Ou é o fato de bom corte, ou manta de pastor.
E esse é justamente o problema das leituras apressadas!
Senão vejamos: Santana Lopes de bordão e manta de pastor… preocupado com o interior, diz a legenda. Nem mais! A manta, porque, no interior, à noite e ainda mais agora, arrefece muito. E o cajado, por razões óbvias… no estado em que as coisas estão, alguém terá de pôr um pauzinho na engrenagem! Enfim, um cajado de pastor pode ser um pouco exagerado, mas …. Sempre é melhor que a hipótese de considerar que, no estado em que as coisas estão, isto só se resolve à paulada!
Claro que nenhum político, em seu perfeito juízo e além do mais em democracia, poderia defender uma solução dessas. Muito menos com gente a ver.

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