segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

pro dignitate. no mínimo...

“Deslocalização da fábrica para a Roménia faz terramoto político”, conta o Diário de Notícias…
Terramoto onde?! Em Vila do Conde, Setúbal, na Damaia?... Não senhor, na Alemanha. Mais: “o Governo alemão pede o boicote ao uso de telemóveis Nokia”. Porque é do que se trata. A Nokia, empresa finlandesa e uma das maiores fabricantes de telemóveis do mundo, decidiu deslocar a fábrica de Bochum, no Oeste da Alemanha e onde trabalham perto de 2500 pessoas, para a Roménia e Hungria.
O presidente da região já pediu explicações à empresa. Acha inconcebível, a Nokia ter recebido "60 milhões de euros de subsídios regionais e 28 milhões das autoridades federais alemãs, em termos de ajuda à pesquisa e depois, mal acaba o prazo legal, dizer obrigado, vamos embora"… citámos. O banco estatal da Renânia do Norte – Vestefália estuda mesmo a hipótese de pedir, em tribunal, a devolução dos 60 milhões de euros.
Agora acontece ainda que a contestação já chegou ao governo e já houve quem pedisse o boicote activo à marca. O presidente do partido social-democrata, Kurt BeckBeck garante que, telemóveis da Nokia, nunca mais lhe entram em casa.
O ministro do consumo também já disse que vai trocar de telefone, em solidariedade com os trabalhadores da unidade alemã em risco de encerramento. Disse mesmo que, o ministério que dirige põe a hipótese de substituir todos os telefones oficiais.
O ministro das Finanças chama, a esta decisão da empresa finlandesa, de “capitalismo de caravana”.
Quanto à reacção popular, essa não difere muito da reacção popular de outros países em situação semelhante… Em Portugal, por exemplo. A única diferença aqui é óbvia e escusa-se ao sublinhado…

E em Portugal…
Ainda no Diário de Notícias, onde se continua a acompanhar o caso do bebé de Anadia que morreu a caminho do hospital…
O correspondente do DN em Aveiro escreve que a família do bebé pede respeito pela dor… O avô da criança já manifestou o desagrado pela ligação estabelecida entre a morte do bebé e o fecho de algumas urgências hospitalares – no caso – a do hospital de Anadia.
A família sente-se incomodada com o aproveitamento do caso, por parte de contestatários ao fecho da urgência do hospital. Diz o avô da criança, citado pelo DN, que há “muita politiquice e falta de respeito pela dor da família”…
Já Sócrates se pronunciou também mais ou menos nesse sentido. Criticando o alegado aproveitamento político que as oposições estarão a fazer deste caso. "Ao que nós chegámos! É o vale tudo", indignou-se o primeiro-ministro, citado, neste caso, pelo Diário Económico

Mas saltemos agora para o jornal Público. Página 5, onde o assunto é mais ou menos o mesmo. Aqui, diz o título que os “resultados da autópsia ao bebé da Anadia
demoram”.
Diz que “se aguardam os resultados da autópsia feita ao bebé que, sexta-feira, morreu em Anadia – o relatório
final deverá demorar vá-” ...?!
Vá?!. Vá, tracinho, e o resto? Vá para onde?! Vá! “Break away, quebre a rotina”… é assim mesmo o que aqui está! É nesta frase que o olhar aterra logo de seguida.
Quero eu dizer: a notícia é interrompida, cortada a meio por um anúncio a uma companhia aérea… um anúncio, ele próprio também cortado ao meio, para deixar correr o resto do texto da notícia e depois concluir a coluna, com o que faltava ainda do texto da publicidade, no caso, as tabelas e tarifas dos vôos anunciados .
Recapitulando. “O relatório final deverá demorar várias semanas”, portanto, “break away, quebre a rotina”… “o primeiro-ministro voltou ontem a criticar o aproveitamento político da situação”… e, quanto aos resultados da autópsia, hão-de demorar e salto: “mais de duas semanas porque os testes vão ser feitos fora do Instituto”… “Amsterdão 190 euros, Viena 256, Moscovo 384” … e “há mais ofertas”, diz ainda o reclame, em letra mais miúda e discreta. Letras brancas, em fundo azul muito celeste.
Ora bem, a ideia em si, o truque publicitário é de uma novidade um pouco serôdia… quanto ao resto, ao contexto próprio da engenhosa montagem gráfica… que se saiba, a morte de crianças, a caminho do hospital, ainda não é rotina em Portugal.
Gott sei dank!

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