sexta-feira, 14 de dezembro de 2007



Já não me lembro de quem era avó.... Lembro-me que, a senhora em questão, comia sempre a fava do bolo rei, discretamente, sem se desmanchar.
Não com medo, que alguém lhe cobrasse fosse o que fosse! Claro que ela sabia muito bem, que era tudo só uma espécie de jogo, de brincadeira da época, uma tradição antiga. Ela sabia. O espírito do Natal e essas coisas... Não era o caso. Uma questão de princípio, talvez. Talvez a senhora não gostasse de perder nem a favas nem a feijões! A verdade é que, sempre que lhe saía a fava, ela comia-a, p’ra ninguém saber.
Claro que, quando o bolo chegava ao fim e a fava não aparecia a mais ninguém, toda a gente percebia que já tinha sido comida, discretamente entre uma geropiga e uma casquinha de abóbora cristalizada. Já tinha sido comida e por quem?... Pancadas!
O problema é que, com a idade – que ela sempre foi assim, ao que parece – com a idade, os dentes foram-lhe faltando e uma vez foi o diabo, que a senhora engasgou-se mesmo a sério com um bocado de fava mal partida e qual geropiga, qual nada! Uma aflição mesmo.
A tua avó – disse-lhe eu – o espírito do Natal ainda acaba por matar a tua avó!

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