Amanhã, se deus quiser, fará sol, se não chover…
Tinham-me prometido uma chuva de estrelas. Como sempre, avisaram-me que não seria uma verdadeira chuva, nem sequer de estrelas. Em boa verdade, o fenómeno até se haveria de repetir, como habitualmente, no próximo ano e no outro e no que seguisse, até ao fim dos tempos, enquanto a terra fosse terra e a lua fosse lua e o sol se aguentasse, firme no seu posto, a fazer girar os planetas todos à volta dele, como borboletas tontas. E não seria chuva, porque o que verdadeiramente se iria passar era a terra atravessar o núcleo central de uma espécie de aterro cósmico, onde gravita a lixarada que ficou da passagem de um cometa de que não fixei o nome… a entrada desse lixo, minúsculas partículas de poeira dos astros, na atmosfera terrestre é que os faz acender e brilhar como estrelas. Portanto nem chuva, nem de estrelas, mas um espectáculo bonito de se ver, apesar de tudo. Alias, p’la propaganda, um espectáculo a não perder, mesmo!
Portanto e antes que me perca, tinham-me prometido uma chuva de estrelas; mas tudo isso, se! Neste ponto, todos estavam de acordo. Se! Se não houvesse nuvens no céu, se se escolhesse um ponto fora das grandes cidades, onde a luz da civilização apaga a luz das próprias estrelas…
Portanto e apesar de tudo, tudo foi montado ao pormenor: as máquinas, as instruções de observação, o entusiasmo da população… pequenos, médios e nunca verdadeiramente muito grandes grupos organizaram-se para celebrar o nocturno fenómeno, a quase mística experiência, o cosmogónico deslumbramento.
E então, as nuvens vieram e afinal não choveu. Enfim, chover choveu, só que, como quase ia chovendo, apesar de não ter chovido, a chuva ninguém a viu, apesar de ter chovido. O mesmo é dizer: a chuva de estrelas deve ter acontecido. Aconteceu mesmo. De certeza. É daquelas coisas que acontecem, mesmo que a gente não queira, ou não veja, ou ache mesmo que só acontece aos outros… portanto, chuva de estrelas houve, a acreditar na astrofísica actual, já que se tem de acreditar nalguma coisa… a gente é que não viu nada, porque o céu estava encoberto com nuvens a ameaçar chuva, mas da outra, da que traz outras poeiras com ela. Poeiras, algumas manhosas mesmo; restos de lixo que se foi soltando cá de baixo e que, depois volta ao remetente, já mais velho e ressabiado. Enfim, não choveu, mas as nuvens taparam o céu e impediram que se visse a chuva, a outra, a assim chamada de estrelas, que – já sabemos – é poeira do cometa, são meteoritos, poeira em brasa… mas não deu p’ra ver. Eles tinham avisado que havia o se. Não que o se, de que falavam, interferisse, de qualquer forma, com a inevitabilidade garantida do fenómeno em si, mas, que havia uma série de factores, externos ao fenómeno, que poderiam condicionar a observação do mesmo. E, a expressão “do mesmo”, como já vimos, vem aqui muito a propósito, já que, como também já percebemos, o fenómeno se repete todos os anos, por esta altura… mas, como também já percebemos, nada disto desmobiliza um povo que aprecia emoções fortes e experiências sublimes. O povo português é assim e então, todos os pontos de observação do costume foram ocupados; todas as expectativas activadas e tudo se preparou à altura do acontecimento.
No dia seguinte, perguntasse-se a quem fosse, ou, p’lo menos, a quem tivesse ido, para a rua, para o alto de um monte, para as falésias de uma praia deserta olhar para o céu, à espera da prometida chuva… olhar para o céu, perseguindo o rasto das estrelas.. todos haveriam de dizer que não viram nada, porque o céu estava encoberto. Na melhor das hipóteses, havia quem dissesse ter avistado uma ou duas estrelas cadentes…
Mas a alegria, o sonho, a certeza, de que algures, do outro lado das nuvens, um espectáculo maravilhoso, se bem que de explicação científica pouco interessante, se estava a desenrolar, às escondidas dos olhos de todos, era consolador e fascinante. Era quase como se os anjos descessem sobre a cabeça do povo, numa chuva de bênçãos e perfumes inebriantes.
Enfim, foi pena as nuvens, mas, no fim de contas, a vida da gente é mesmo assim !
Tinham-me prometido uma chuva de estrelas. Como sempre, avisaram-me que não seria uma verdadeira chuva, nem sequer de estrelas. Em boa verdade, o fenómeno até se haveria de repetir, como habitualmente, no próximo ano e no outro e no que seguisse, até ao fim dos tempos, enquanto a terra fosse terra e a lua fosse lua e o sol se aguentasse, firme no seu posto, a fazer girar os planetas todos à volta dele, como borboletas tontas. E não seria chuva, porque o que verdadeiramente se iria passar era a terra atravessar o núcleo central de uma espécie de aterro cósmico, onde gravita a lixarada que ficou da passagem de um cometa de que não fixei o nome… a entrada desse lixo, minúsculas partículas de poeira dos astros, na atmosfera terrestre é que os faz acender e brilhar como estrelas. Portanto nem chuva, nem de estrelas, mas um espectáculo bonito de se ver, apesar de tudo. Alias, p’la propaganda, um espectáculo a não perder, mesmo!
Portanto e antes que me perca, tinham-me prometido uma chuva de estrelas; mas tudo isso, se! Neste ponto, todos estavam de acordo. Se! Se não houvesse nuvens no céu, se se escolhesse um ponto fora das grandes cidades, onde a luz da civilização apaga a luz das próprias estrelas…
Portanto e apesar de tudo, tudo foi montado ao pormenor: as máquinas, as instruções de observação, o entusiasmo da população… pequenos, médios e nunca verdadeiramente muito grandes grupos organizaram-se para celebrar o nocturno fenómeno, a quase mística experiência, o cosmogónico deslumbramento.
E então, as nuvens vieram e afinal não choveu. Enfim, chover choveu, só que, como quase ia chovendo, apesar de não ter chovido, a chuva ninguém a viu, apesar de ter chovido. O mesmo é dizer: a chuva de estrelas deve ter acontecido. Aconteceu mesmo. De certeza. É daquelas coisas que acontecem, mesmo que a gente não queira, ou não veja, ou ache mesmo que só acontece aos outros… portanto, chuva de estrelas houve, a acreditar na astrofísica actual, já que se tem de acreditar nalguma coisa… a gente é que não viu nada, porque o céu estava encoberto com nuvens a ameaçar chuva, mas da outra, da que traz outras poeiras com ela. Poeiras, algumas manhosas mesmo; restos de lixo que se foi soltando cá de baixo e que, depois volta ao remetente, já mais velho e ressabiado. Enfim, não choveu, mas as nuvens taparam o céu e impediram que se visse a chuva, a outra, a assim chamada de estrelas, que – já sabemos – é poeira do cometa, são meteoritos, poeira em brasa… mas não deu p’ra ver. Eles tinham avisado que havia o se. Não que o se, de que falavam, interferisse, de qualquer forma, com a inevitabilidade garantida do fenómeno em si, mas, que havia uma série de factores, externos ao fenómeno, que poderiam condicionar a observação do mesmo. E, a expressão “do mesmo”, como já vimos, vem aqui muito a propósito, já que, como também já percebemos, o fenómeno se repete todos os anos, por esta altura… mas, como também já percebemos, nada disto desmobiliza um povo que aprecia emoções fortes e experiências sublimes. O povo português é assim e então, todos os pontos de observação do costume foram ocupados; todas as expectativas activadas e tudo se preparou à altura do acontecimento.
No dia seguinte, perguntasse-se a quem fosse, ou, p’lo menos, a quem tivesse ido, para a rua, para o alto de um monte, para as falésias de uma praia deserta olhar para o céu, à espera da prometida chuva… olhar para o céu, perseguindo o rasto das estrelas.. todos haveriam de dizer que não viram nada, porque o céu estava encoberto. Na melhor das hipóteses, havia quem dissesse ter avistado uma ou duas estrelas cadentes…
Mas a alegria, o sonho, a certeza, de que algures, do outro lado das nuvens, um espectáculo maravilhoso, se bem que de explicação científica pouco interessante, se estava a desenrolar, às escondidas dos olhos de todos, era consolador e fascinante. Era quase como se os anjos descessem sobre a cabeça do povo, numa chuva de bênçãos e perfumes inebriantes.
Enfim, foi pena as nuvens, mas, no fim de contas, a vida da gente é mesmo assim !
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