quinta-feira, 2 de outubro de 2008

os tempos vão difíceis.

A casa já tem mais de cem anos de porta aberta, mas os tempos vão difíceis. Este Mercado de S. João, em Braga, sobreviveu à crise da 2ª Guerra Mundial, mas treme agora perante o avanço das grandes superfícies, que ameaçam de extinção o comércio tradicional. Mas vamos ao que importa. No Mercado de S. João, em Braga, a especialidade é o bacalhau. Sempre foi. Mas agora, reclama o actual dono, estamos no tempo do sem qualidade, verde, de secagem insuficiente, que se vende barato nos supermercados. Um insulto. Um ultraje àquele que já foi considerado o recurso dos mais pobres. Tempo houve em que, quem não tinha mais nada, tinha sempre e pelo menos uma postinha de bacalhau para coser. Tempo houve. Hoje os tempos são definitivamente outros e para repor alguma justiça e devolver alguma dignidade ao fiel amigo, o Mercado de S. João de Braga vende bacalhau pela Internet. Bacalhau do bom, garantem. Nada a ver com esse tal outro mal seco e esverdeado. Desde que o site foi criado, há 3 anos, já recebeu 9 mil visitas. Recebem encomendas de todo o mundo. Mails de muitos emigrantes fazendo encomenda. Acontece que muitas delas acabam retidas nas fronteiras dos países para onde são expedidas, mas quanto a isso, o proprietário do negócio diz que não pode fazer nada. Os clientes ficam por sua conta e risco quanto a esse pormenor. Quer dizer, quanto a isso, batatas.

E saltemos agora para o Correio da Manhã. Já quase em fecho de edição, o jornal publica esta breve e sublime notícia. Rádio Sim. Diz o título. E aqui não se trata de nenhuma afirmação, ou manifesto de intenções. Rádio Sim é mesmo o nome da nova Rádio que ora se anuncia. E anuncia-se como a primeira Rádio dedicada a pessoas com mais de 55 anos. Comecemos por anotar este pormenor fundamental. Para maiores de 55 anos. Não maiores de 50, ou de 65 anos, que é a idade da reforma. Não é portanto uma Rádio para reformados, nem uma Rádio para os que venceram a barreira dos 50. Enfim, 50 sempre é metade de cem e o número cem conserva uma certa mística muito própria e conveniente, para, por exemplo, centenários e coisas assim. Portanto esta Rádio Sim distingue-se à partida de qualquer outra que exista ou venha a existir dirigida a auditórios de 50 anos, ou já na reforma. Esta Rádio Sim é só para quem tem mais de 55 anos. Claro que, assim sendo, os de 65 anos estão incluídos. O que já não acontece, obviamente com os de 50, já que 50, como se sabe é menos de 55.

Esta Rádio Sim emite em duas frequências, a partir de Lisboa e Évora e a partir deste mês, também. A directora de programação desta nova Rádio diz que o programa da manhã vai ser de informação e opinião. E ora aqui está a primeira grande inovação! Informação e opinião logo de manhã. Coisa de que a Rádio portuguesa bem precisada estava. Enfim, se há que começar por algum lado, comecemos pelos ouvintes de 55 anos. Servem de cobaia. Se a ideia pegar, a de abrir as manhãs da Rádio com informação e opinião, pode ser que o modelo se abra depois a auditórios mais vastos e diversificados. Porque eles são muito diversificados, os auditórios de Rádio. Por isso ele há Rádios dirigidas a públicos específicos. Desta já vimos. É para maiores de 55 anos. Mas há as Rádios jovens, só para jovens, há as eruditas e as ditas clássicas, as que só passam jazz, as que só passam fado… o mesmo para as Televisões que só passam desporto, só passam documentários de viagens ou de descobertas científicas e outras… enfim, a Comunicação Social especializa-se e dispara tiros cirúrgicos ao público alvo.

E é nesse sentido que saudamos o nascimento da Rádio Sim. Sim, decerto. Claro que sim. Ficamos entretanto à espera de uma Rádio para maiores de 65 anos, mas com espírito jovem. Uma outra para os que gostam de ópera e futebol de salão ao mesmo tempo. Outra para os que gostam de futebol de salão, mas preferem o jazz. Mais uma para os jovens, mas daqueles de quem se diz que pareces um velho, pá, valha-te deus e gostam de fado e crónicas de viagem. E mais uma para os jovens, mas daqueles de quem se diz pareces um velho, pá, valha-te deus e gostam de pingue-pongue e fado vadio e… e o horizonte é vasto e o disparate é o limite. Mais uma rádio para os que só ouvem rádio entre o meio-dia e as 4 da tarde e mais uma para os que não ouvem rádio e uma última para os que não ouvem de todo. Nem rádio nem coisa nenhuma, os chamados surdos.

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