terça-feira, 22 de julho de 2008


Receando tratar-se de um engenho explosivo, a PSP chegou a interromper o trânsito e a criar um perímetro de segurança, para proceder ao rebentamento do objecto. E o objecto suspeito era esta mala, abandonada, logo pelas primeiras horas da manhã, junto à garagem terminal dos autocarros em Setúbal.

Um telefonema anónimo avisou as autoridades. Quando a polícia chegou, fez o que já vimos. Cortou o trânsito e isolou o local. Ninguém entretanto reclamava a propriedade da enigmática mala. Todos responderam que não sabiam e que não tinham nada a ver com o assunto. Foi chamada a Brigada de Inactivação de explosivos, enquanto se mandava afastar os mais curiosos.

Depois das perícias iniciais, concluiu-se que havia qualquer coisa metálica, na suspeita mala. Foi isso que obrigou a polícia a redobrar os cuidados e a segurança. Procedeu-se então à explosão controlada. Depois do estrondo, dissipado o fumito da explosão, acabou por se verificar que a mala estava vazia. Podia não estar. Podia estar cheia de roupa para umas férias na praia, por exemplo. Mas não. Estava vazia. Quanto ao objecto metálico detectado pela polícia e que tornou a mala particularmente suspeita… pois a notícia não diz, mas é provável que fossem as próprias ferragens, dobradiças, fecho, ou outra qualquer peça componente da mala.

Consta que, depois de verem que afinal não havia perigo iminente, as pessoas respiraram fundo e até riram da situação. Diz que até gozaram com a situação, mas que, antes da polícia rebentar aquela coisa (foi como lhe chamou um lojista da zona, entrevistado pelo Diário de Notícias) “…antes da polícia rebentar aquela coisa, era ver o pessoal a fugir daqui.” O rosto dos polícias também não ajudava muito. Rosto fechado… parecia que o caso era sério.

Pois parecia e parece. Sério e preocupante. Não tanto pela virtual ameaça terrorista. Que por enquanto e felizmente é mesmo só disso que se tem tratado… ameaças virtuais… não tanto por isso, mas porque, nestes tempos, esquecer-se a gente da mala em qualquer terminal de transportes, ou na via pública é o mesmo que dizer-lhe adeus. Isto no mínimo. Que, se no entretanto nos chegarmos à frente reclamando o objecto perdido, ainda se corre o risco de ser acusado de distúrbio à ordem pública e à paz social.

Depois, pode-se esgotar todos os provérbios. Desde o do seguro que morreu de velho, ao do mais vale prevenir, passando por aquele do cantarinho que vai à fonte, até que um dia perde a asa, ou é rebentado por uma carga de dinamite…

É aliás, talvez a mesma lógica de raciocínio que levou o Fisco a traçar o perfil do devedor virtual. Ou seja, o Fisco vai traçar o perfil do potencial incumpridor dos seus deveres fiscais. Sejam empresas ou pessoas individuais. O perfil daqueles que – em linguagem popular – se não a fizeram, estão para a fazer.

Claro que se calcula que esse perfil não seja traçado literalmente tendo em conta o rosto, os traços fisionómicos de ninguém em particular. O despiste há-de ser feito pelas contas e transacções bancárias dos visados. Eventualmente através dos hábitos de consumo, sinais exteriores de riqueza, por aí...

Mas, chega-se ao mesmo sítio, vá por onde se for.

Que é – antes que a coisa aconteça – corta-se o mal pela raiz, ou, no mínimo, monta-se guarda apertada ao suspeito, seguem-se-lhe os movimentos, à espera de um passo em falso.

E é isso, no fundo, o que distingue um cidadão suspeito de evasão fiscal, de um saco esquecido num terminal de camionagem. No primeiro caso, a polícia não lhe cola uma carga de dinamite às costas.

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