segunda-feira, 14 de julho de 2008

“As bonecas deficientes podem ajudar as crianças?...” É a pergunta, em título e a toda a largura da página, esta segunda feira no jornal Público.

Bonecas deficientes como? Defeito de fabrico?!...

Nada disso. Têm os olhos amendoados, a língua ligeiramente de fora, as mãos sapudas. Explica-se em sub título, que são bonecas com o síndroma de Down.

Será brincadeira de mau gosto, ou, como se anuncia, a maneira de promover a diferença? As opiniões dividem-se. Há quem diga que roça o mau gosto.

Ora comecemos por aqui. O Jornal publica a fotografia do que se supõe serem dois exemplares destas bonecas, que começaram já a ser fabricadas e postas no mercado por uma empresa espanhola. Já se venderam 5 mil bonecas destas, em Espanha, onde, do lucro das vendas, a empresa doa 40% para a associação espanhola de apoio às crianças com o síndroma de Down.

Mas, não nos dispersemos. Dizia, que a ideia é controversa e divide opiniões. Primeiro que tudo – e regressemos às fotografias – as bonecas, que o jornal mostra, têm um ar absolutamente normal. Ou seja, são idênticas a centenas de outras, que já todos vimos, em outras tantas montras de loja. Se o jornal não dissesse que estas duas, estas duas em particular, foram desenhadas e construídas na imitação de uma criança com o síndroma de Down… ninguém lá chegaria por conclusão própria, ou por observação cuidada. Ninguém. Garanto-vos. Aliás, já todos vimos bonecas de aspecto bem mais estranho, sem etiqueta nenhuma em especial que indique o que elas pretendem retratar, ou significar, ou chamar a atenção para…

Mas, continuemos. Em Portugal, a “Diferenças” – associação de portadores de trissomia 21 e a “Raríssimas” – associação nacional de deficiências mentais e raras rejeitam estas bonecas. Diz o jornal, citando: “as meninas olham e admiram o perfeito, o ideal, a Barbie que não existe. Porquê retirar-lhes também esse sonho de se reverem nelas, como acontece com as meninas sem deficiência?” Este já é um raciocínio que me custa um bocado a acompanhar... Adiante.

Depois, há estes dois investigadores da Faculdade de Motricidade Humana – os nomes para já pouco adiantam – mas, que dizem que o ideal seria oferecer estas bonecas a crianças sem deficiência, para que percebam que há diversidade, que há diferença. Haver há, duvido um bocado é que as crianças consigam distingui-la, só de olhar para estas bonecas. Enfim, se se fizer mesmo questão em sublinhar essa diferença. Aí talvez lá cheguem.

Os fabricantes acham no entanto, que o público-alvo é mesmo o das crianças com deficiência. Para que elas tenham algo com que se identificar, para que construam a sua auto estima, para que se sintam mais integradas na sociedade. Continuo a dizer que os modelos apresentados na fotografia do jornal têm um aspecto absolutamente banal e idêntico a milhares de outros que já vimos. Tirando, claro, as Barbies.

Ora vamos às Barbies! Paula Costa, presidente da “Raríssimas” diz que esta ideia é má, porque – voltemos à citação – “as meninas olham e admiram o perfeito o ideal, a Barbie que não existe. Porquê…” – continua a presidente da “Raríssimas” – “…porquê retirar-lhes também esse sonho de se reverem nelas, como acontece com as meninas sem deficiência?” Ora bem, esta é fácil! Porque, ao menos as meninas com deficiência, talvez mereçam ser poupadas a esse sonho.

E por duas razões simples… Primeiro, por uma questão de honestidade. Porque por muito que façam, a condição genética nunca lhes há-de permitir ser uma Barbie. E ainda bem que não! Porque, ao contrário do que afirma Paula Costa, presidente da “Raríssimas” , a Barbie existe mesmo! E, se me permitem a opinião, é até bem mais desengraçada, benza-a deus!, que estas duas bonecas, que o Público hoje mostra em fotografia .

Depois, porque... Paula Costa ainda, diz que oferecer uma boneca destas a uma criança com o síndroma de Down é o mesmo que dizer: tu és assim, és diferente e só podes ter um dia um bebé como tu. Como se dissesse, “e isso é fodido, mas é assim mesmo. Estás condenada!" Diz ainda, Paula Costa, que não se quer promover a diferença, mas promover a beleza das crianças com síndroma de Down. Fazê-las crer que, por fora podemos ser diferentes, mas que, por dentro, somos todos iguais. Ora aí está um belo chavão cheio de pontas soltas e a segunda razão de que falava. É que, nem por dentro nós somos todos iguais. E daí? Qual é o problema?

Mas volto ao que importa. E o que importa é que estas bonecas são francamente mais bonitas que a escanzelada, que a inútil da Barbie. Têm, pelo menos, um ar mais saudável.

E em Portugal, é a batatinha frita, a pipoca em frente à televisão, é, mais que tudo, a ociosidade e a falta de assunto, o que leva as nossas crianças a ganhar peso até se tornarem, o que clinicamente se chama, obesas.

E em Portugal, conta o 24 Horas, há, a partir deste ano, um projecto pioneiro para combater a obesidade infantil. É um campo de férias especialmente organizado a pensar nas crianças com excesso de peso. Foi a médica Helena Fonseca quem teve a ideia e criou este campo de férias. A colónia de férias fica em S. Martinho do Porto. Funciona na pousada da Juventude de Alfeizeirão e recebe crianças entre os 10 e os 16 anos. E está a ser um sucesso.

As 30 crianças inscritas, diz que até já comem salada e até gostam. Diz a médica que as crianças já eram acompanhadas em espaço de consulta e que se tinha verificado que, o período entre o fim das aulas e as férias em família era o mais complicado. Isto porque é o período em que elas ficam entregues à própria sorte, sem outra companhia que não sejam os computadores, as consolas de jogos, ou a televisão. Um período em que a única actividade física é pestanejar, abrir e fechar a boca para comer e mexer os polegares para manipular os comandos dos videojogos e afins…

Era portanto urgente tirar as crianças dessa rotina entorpecedora e colocá-las num espaço onde fosse possível – diz a médica – trabalhar determinadas técnicas…

Para isso formou-se uma equipa de pediatras, psicólogos, enfermeiros, nutricionistas e especialistas em exercício físico.

Para já, os primeiros resultados são um sucesso rotundo. Diz a médica que é espantoso vê-los a comer com gosto, alface e cenoura em salada. Diz que está espantada com a quantidade e o gosto com que o fazem. Mais ainda. O gosto com que, depois das refeições, partem todos em grupo a fazer passeios a pé. Ninguém desiste e uns apoiam os outros, quando alguém dá sinais de cansaço, ou menos vontade.

A experiência foi planeada pelo Departamento da Criança e da Família do Hospital de Santa Maria e tem o apoio do Instituto da Juventude e da Plataforma contra a Obesidade da Direcção Geral de Saúde.

O projecto, nesta primeira edição, decorre até 19 de Julho e está aberto também aos pais, convidando-os a eles também a participar nas actividades físicas, juntamente com os filhos. Acabadas as férias e depois da passagem por este campo, as crianças vão continuar a ser monitorizadas pelos técnicos, que esperam sinceramente, que este exemplo os encoraje e dê força de vontade para, durante o resto do ano, continuarem a ter cuidado com a alimentação e a não cometer excessos.

E se calhar, aqui é que está o busílis da questão. É que, já vimos que, se tiverem, mais do que incentivo… se tiverem assunto, as crianças aderem com alegria – até comem alface, diz a médica. O problema é mesmo a falta de assunto. Ou se quisermos, a facilidade com que os pais destas crianças os deixam sozinhos e entregues à sorte, a imbecilizar aos poucos frente à televisão, ou agarrados à playstation. É mais fácil… Claro que todos eles, os pais, devem achar brilhante esta ideia e até parece que já os estamos a ver todos contentes a fazer ginástica com os filhos e a comer alface com eles, numa alegre e saudável confraternização macrobiótica. O pior é quando acabarem as férias e tudo voltar à rotina do dia a dia.



Nasceu ontem a União para o Mediterrâneo, escreve o Público a abrir a página – que aliás são duas – dedicadas à cimeira de Paris, deste fim-de-semana.

Uma União para enfrentar os grandes desafios do século. Uma União destinada a reforçar e impulsionar o Processo de Barcelona, que foi criado em 95, mas que não chegou a impor-se, devido sobretudo aos diferendos entre Israel e os Estados Árabes.

43 países, 750 milhões de cidadãos das duas margens do mar mediterrâneo, unidos – escreve o Público , citando a declaração final da cimeira… “unidos pela ambição comum de construir juntos um futuro de paz, democracia, prosperidade e compreensão humana , social e cultural.”

Continua-se depois, explicando que o projecto – o desta União para o Mediterrâneo - tem a ver com o assumir em mãos os grandes desafios do século. As alterações climáticas, a deterioração do ambiente, o acesso à água e à energia e ainda, as migrações e o diálogo entre civilizações… Aqui é que as águas se dividem, ou se quisermos, aqui é que o mar mediterrâneo estabelece a fronteira primordial. A ver…

Diz a notícia que " a primeira prioridade desta União para o Mediterrâneo vai ser despoluir o mar.” Para isso, há que eliminar em 80%, as fontes de poluição. Esgotos e lixeiras… um esforço que deve custar 2 mil milhões de euros até 2020. Isto, o esforço anunciado do lado europeu. Os desta margem pretendem igualmente avançar com o desenvolvimento da energia solar… mas neste caso, na outra margem, ou seja do lado africano. Bem como o reforço da protecção civil – aqui, fica-se sem saber de que lado, mas acredita-se que se estaria a pensar no reforço da protecção civil, nas praias e costas de desembarque dos imigrantes clandestinos… eventualmente. Outra prioridade na agenda europeia, para além de despoluir o mar, é reforçar os transportes marítimos entre as duas margens e a criação de uma Universidade Euro-Mediterrânica – que já foi, aliás, inaugurada na Eslovénia.

Agora as prioridades dos países da margem sul. Os da outra banda.

Em primeiro lugar… vistos de trabalho na Europa. Autorização para estudar na Europa.

Depois, possibilidade de vender a produção agrícola desses países, da outra margem, no mercado comunitário europeu.

Dois objectivos que, segundo o jornal, não estão por agora contemplados.

Ora, já vimos que há algumas diferenças entre os objectivos, que movem as duas margens do Mediterrâneo.

Sabe-se que o tal Processo de Barcelona terá encalhado justamente por se ter concluído que havia algum desequilíbrio, em favor da União Europeia e prejuízo dos outros países de fora do espaço comunitário. Pois agora e para colmatar essa grave falha, ter-se-á descoberto a pequena solução para o grande problema. E ela é – a presidência da recém criada União para o Mediterrâneo será bicéfala. Ou seja, uma presidência conjunta de um país do norte e outro do sul. Para já, esses cargos serão assumidos por Sarkozi, da França e Mubarak do Egipto. Também um secretariado-geral comum e bipartido se encarregará de definir projectos e angariar financiamentos.

E para já, também e apesar das diferenças substanciais e já referidas, dos propósitos, prioridades e objectivos das duas margens do mediterrâneo… apesar disso, que poderia levar a pensar que temos aí um problema. Por exemplo, o sul a querer vistos de trabalho e o norte a reforçar a protecção civil e as fronteiras… poderia ser um problema difícil de resolver. Ou o sul a querer ter acesso aos mercados comunitários e a comunidade mais preocupada em vender-lhes painéis solares… poderia ser, mas não é. Diz a noticia, que o problema maior e que aliás teve de ficar para outras núpcias… é o de decidir onde vai ficar a sede do futuro secretariado da União para o Mediterrâneo!

Há várias propostas… Espanha, Marrocos., Argélia, Tunísia, são os candidatos, mas, este fim de semana em Paris, não se chegou a consenso e a decisão ficou adiada para Novembro, para uma reunião de ministros de negócios estrangeiros que está agendada para essa altura. A grande decisão! Onde é que vai ficar a sede do secretariado da União para o Mediterrâneo. Tirando isso, tudo correu benzinho e o jornal garante até em título que, a Cimeira de Paris foi literalmente varrida por uma onda de optimismo quanto à paz no Médio Oriente.

Boa onda!

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