O medo passeia-se tranquilamente pela avenida. Leva pela mão a desconfiança e a má consciência…
Descem tranquilamente pela avenida. Param perante o aparato policial. Uma brigada fecha o trânsito e monta o dispositivo necessário à operação: neutralizar um saco suspeito, abandonado na via pública. Quase que se ouve o tique-taque da bomba! Ou será o coração, que bate mais forte, com a expectativa?... A explosão desfaz o susto em mil pequenos destroços… farrapos queimados de roupa interior e objectos pessoais não identificáveis espalham-se pelo chão. Pelo menos, não identificáveis como qualquer tipo de ameaça real e perigosa…
Foi no Porto, na rua Passos Manuel, como podia ter sido, na rotunda da Boavista… onde aliás, também já aconteceu.
No Porto, em Faro… o medo gosta de passear e ver gente. E foi á feira de Santa Iria, no Algarve.
O homem estava a fotografar as crianças que se empoleiravam no carrossel. Diz que é costume ir até à feira, tirar fotografias, porque acha que é um sítio que dá boas chapas… muita cor, animação, gente feliz… E estava nisto, quando o medo lhe bateu no ombro e o convidou a identificar-se. A desconfiança, por esta altura, jogava à cabra cega com a má consciência… Avançou de olhos fechados e foi esbarrar com o homem que tirava fotografias. Achou que devia ser um pedófilo, para estar a fotografar crianças num carrossel… com o que se diz e conta por aí, só podia ser…
Levaram-no para a esquadra, já sem grande cerimónia, garante o arguido e quiseram saber tudo. O que estava a fotografar e se tinha ou não inclinações ou tendência pedófilas… Oficialmente, o delito em causa é fotografar, sem licença dos próprios, pessoas na via pública… neste caso, crianças. O que, ao que consta, torna tudo mais suspeito.
A notícia vem em vários jornais desta sexta feira. E o medo deve estar bem satisfeito, por esta hora, com o andar da carruagem… é que – até podemos estar em presença de um sinistro violador de crianças - agora, a verdade é que se se desata a deter pessoas, que fotografam crianças em carrosséis… só assim , mesmo que movido por qualquer denuncia anónima ou identificada… abre-se um precedente que pode revelar-se difícil de gerir… pode vir mesmo a complicar a vida dos fotógrafos em geral, ou até mesmo os mais amadores dos turistas em férias.
No caso das crianças, o medo esfrega as mãos. A coisa parece bem encaminhada. Falta só estender a paranóia aos edifícios públicos…
Quem sabe a verdadeira intenção desse discreto octogenário que segura a kodak com mão trémula e a aponta, com ar suspeito, à fachada dos Jerónimos? E o Cristo rei, estará ele seguro, sob o fogo dos flashes?...
E, ao mesmo tempo e por outro lado, que sentido fará, um dia destes, as secções de perdidos e achados, que algumas empresas e autarquias têm, para devolver ao cidadão os objectos perdidos, esquecidos na paragem do autocarro, na esplanada do café?...
Talvez o medo saiba a resposta, mas agora não pode. Está muito entretido a ver como aqueles dois homens desmontam a pesada caixa Multibanco, para a levarem para casa.
Já tentaram com uns explosivositos artesanais, mas sem grande resultado. O que vale é que parece que têm a noite toda para o fazer. Por isso, alguém lembrou: “e se tentássemos com um catrapila?”
“Boa ideia”, diz o medo. A desconfiança não acha. Mas é normal. A desconfiança é sempre assim, sempre no contra…
A má consciência, como assaltos a Multibanco não a estimulam por aí além, foi para casa.
Foi dormir.
Descem tranquilamente pela avenida. Param perante o aparato policial. Uma brigada fecha o trânsito e monta o dispositivo necessário à operação: neutralizar um saco suspeito, abandonado na via pública. Quase que se ouve o tique-taque da bomba! Ou será o coração, que bate mais forte, com a expectativa?... A explosão desfaz o susto em mil pequenos destroços… farrapos queimados de roupa interior e objectos pessoais não identificáveis espalham-se pelo chão. Pelo menos, não identificáveis como qualquer tipo de ameaça real e perigosa…
Foi no Porto, na rua Passos Manuel, como podia ter sido, na rotunda da Boavista… onde aliás, também já aconteceu.
No Porto, em Faro… o medo gosta de passear e ver gente. E foi á feira de Santa Iria, no Algarve.
O homem estava a fotografar as crianças que se empoleiravam no carrossel. Diz que é costume ir até à feira, tirar fotografias, porque acha que é um sítio que dá boas chapas… muita cor, animação, gente feliz… E estava nisto, quando o medo lhe bateu no ombro e o convidou a identificar-se. A desconfiança, por esta altura, jogava à cabra cega com a má consciência… Avançou de olhos fechados e foi esbarrar com o homem que tirava fotografias. Achou que devia ser um pedófilo, para estar a fotografar crianças num carrossel… com o que se diz e conta por aí, só podia ser…
Levaram-no para a esquadra, já sem grande cerimónia, garante o arguido e quiseram saber tudo. O que estava a fotografar e se tinha ou não inclinações ou tendência pedófilas… Oficialmente, o delito em causa é fotografar, sem licença dos próprios, pessoas na via pública… neste caso, crianças. O que, ao que consta, torna tudo mais suspeito.
A notícia vem em vários jornais desta sexta feira. E o medo deve estar bem satisfeito, por esta hora, com o andar da carruagem… é que – até podemos estar em presença de um sinistro violador de crianças - agora, a verdade é que se se desata a deter pessoas, que fotografam crianças em carrosséis… só assim , mesmo que movido por qualquer denuncia anónima ou identificada… abre-se um precedente que pode revelar-se difícil de gerir… pode vir mesmo a complicar a vida dos fotógrafos em geral, ou até mesmo os mais amadores dos turistas em férias.
No caso das crianças, o medo esfrega as mãos. A coisa parece bem encaminhada. Falta só estender a paranóia aos edifícios públicos…
Quem sabe a verdadeira intenção desse discreto octogenário que segura a kodak com mão trémula e a aponta, com ar suspeito, à fachada dos Jerónimos? E o Cristo rei, estará ele seguro, sob o fogo dos flashes?...
E, ao mesmo tempo e por outro lado, que sentido fará, um dia destes, as secções de perdidos e achados, que algumas empresas e autarquias têm, para devolver ao cidadão os objectos perdidos, esquecidos na paragem do autocarro, na esplanada do café?...
Talvez o medo saiba a resposta, mas agora não pode. Está muito entretido a ver como aqueles dois homens desmontam a pesada caixa Multibanco, para a levarem para casa.
Já tentaram com uns explosivositos artesanais, mas sem grande resultado. O que vale é que parece que têm a noite toda para o fazer. Por isso, alguém lembrou: “e se tentássemos com um catrapila?”
“Boa ideia”, diz o medo. A desconfiança não acha. Mas é normal. A desconfiança é sempre assim, sempre no contra…
A má consciência, como assaltos a Multibanco não a estimulam por aí além, foi para casa.
Foi dormir.
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