quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Em português não temos.
A palavra tablóide, estou em crer que entrou no vocabulário português, por causa de certa imprensa britânica. Nós por cá, ou lhe chamamos jornais de escândalos, para os distinguir dos que reputamos de referência, ou são revistas cor-de-rosa, quando a matéria publicada se centra nos esplendores e misérias de uma certa e auto-proclamada beautifull people.
Em Inglaterra não. Chamam-lhes tablóides e são muito populares e dá para escrever quase sobre tudo e de qualquer maneira. Como se o simples facto de se afirmarem como "tablóides" lhes conferisse o direito de o fazer – não o de escrever sobre tudo e mais alguma coisa, mas a prosa com que o fazem..
Ora bem: The Mirror é um tablóide e Tony Parsons é um dos escribas de serviço.
Pois escreveu Parsons, que a culpa é da polícia portuguesa e que o embaixador de Portugal em Londres é um alarve. Em português pode dizer-se alarve… em inglês, o que o senhor escreveu foi que António Santana Carlos, o embaixador português devia era – e cito – “manter fechada a sua estúpida boca de comedor de sardinhas" , isto se e volto a citar – se “no futuro não conseguir dizer nada de construtivo sobre o desaparecimento de Madeleine McCann". Fino recorte, o da prosa… que se adivinhava já no próprio título da artigalhada; voltemos às citações, no original, p'ra não ofender o bom gosto: "Up your's, Senor". Tirando o pormenor do “Senor”, que não rima com nada, o resto é uma expressão idiomática inglesa, ordinarota quanto baste…
Mas, ora bem, comecemos pela manifesta ignorância de línguas deste Tony Parsons. Em português escreve-se "senhor", com h depois do n… em espanhol escreve-se “señor” com til sobre o “n” o que faz que ele se leia “nhe”… Agora, “Senor”, nem o masculino de cenoura é! Pelo menos em português… Fica a revelação: pensava eu, até hoje, que só os Estados Unidos é que faziam estas pequenas confusões geográficas, de pôr tudo o que se mexa a sul da Europa a falar espanhol e fazer trejeitos esquisitos, mas ao que parece, alguma pequena Bretanha também estará um pouco a leste da realidade que a rodeia.
Ora bem, a crónica heróica e patriótica ( ia a dizer patética…) de Tony Parsons vem em resposta à entrevista, que o embaixador português deu ao Times. E o que é que terá indignado tanto o jornalista inglês, a ponto de o fazer confundir Portugal com Espanha, ou outro qualquer país onde se comam sardinhas?...
António Carlos Santana disse ao Times que estava preocupado com a troca de acusações entre portugueses e ingleses e criticou o casal McCann por ter deixado os filhos sozinhos enquanto iam jantar com os amigos…
Ora, para o cronista do Mirror, a culpa do mau ambiente é da Judiciária Portuguesa, que, para Parsons, é "espectacularmente estúpida e cruel"… E que a policia portuguesa tentou encobrir a humilhação, de não conseguir descobrir o que aconteceu a Madie McCann e que por isso ataca os pais da criança…
Ora, o que Santana Carlos disse ao Times foi que em Portugal é normal as crianças estarem sempre acompanhadas pelos pais, pela família, mas que compreendia que em Inglaterra se tenha padrões diferentes. Referiu mesmo que as diferenças culturais entre os dois países explicava muitas das críticas que foram sendo feitas aos pais de Madie. Que era uma questão de cultura, usos e costumes, que como se sabe, cada terra tem os seus…
Pois para Tony Parsons esse foi mais um comentário “ burro e desnecessário”.
Quanto aos jornais portugueses… ora está à vista de todos, ou pelo menos de Tony Parsons, que os jornais portugueses transformaram o caso em “entretenimento leve” e que os apupos do povo algarvio a Kate McCann, daquela vez à entrada da judiciária em Portimão… diz que foi coisa de outro mundo… ou melhor, não foi coisa “de outro país”… foi mesmo “de outro planeta”!
Ora bem, lá em Inglaterra não sei como será, mas, neste Portugal alarve e comedor de sardinhas, que os McCanns todos do mundo devem apreciar, nem que seja só um bocadinho, senão já tinham ido marcar férias para outras praias… pois neste Portugal, penso que nenhum jornal, nem mesmo os mais desbragados, que também os temos, se atreveria a abrir um artigo com “Up your’s”… ou chamar burro e alarve a ninguém, muito menos a um embaixador estrangeiro… Pode ser uma questão de cultura, pode ser apenas uma questão de boa educação… ou até quem sabe… da própria sardinha assada. Pelo sim, pelo não…sigamos a sardinha!

1 comentário:

Anónimo disse...

gostei da cronica
sim sr.