O título é ambíguo, mas, se entrarmos no corpo da notícia, percebemos que se trata de uma máquina humana de venda. Ou seja, uma conhecida e reputadíssima marca de chocolates suíços instalou, na londrina estação de Vitória, uma máquina de distribuição de chocolates com esta particularidade… lá dentro, está um homem fechado, que espreita através do vidro e que através do vidro entrega os chocolates aos clientes transeuntes. O chocolate é entregue por um homem encaixado dentro da máquina. O slogan de publicidade dos chocolates em causa convida as pessoas a fazerem uma pausa, na corrida do dia a dia e comer um chocolate. É a partir daí, que o responsável pela campanha explica a ideia. Diz que – e citemos – “nesta época de crise, as pessoas estão submergidas pela monotonia do dia a dia e mais do que nunca precisam de uma pausa.” Ora aí está, uma declaração lapidar e redondamente falaciosa, como quase toda a publicidade aliás… Que monotonia se poderá instalar, na vida de uma pessoa confrontada com a dúvida, de como vai pagar as contas ao fim do mês, que dinheiro terá amanhã para comer, ou quando soará, para ela também, a hora do lay off, do lock out, do Armagedon, ou do que seja?!...
Já de saída, o DN cita o homem máquina, ou o homem dentro da máquina, ou a máquina humana… enfim, diz o homem, que nunca lhe tinham tirado tantas fotografias. “Conclui orgulhoso o homem máquina” – escreve o DN.
Também os saguins do Jardim Zoológico se fartam de ser fotografados. Também eles se devem sentir orgulhosos, só que ninguém os entrevista.
E em última hora, o DN dá hoje a noticia, da promulgação da lei da eutanásia no estado norte-americano de Washington. Aprovada em referendo, há 3 meses, a lei entra amanhã em vigor. Diz o jornal, que a eutanásia era já legal no estado do Oregon e que Washington vai agora activar todas as medidas necessárias, para evitar abusos na aplicação da lei.
Ora, acontece que de eutanásia nos fala também o JN de hoje. Aqui, a matéria da notícia é o debate promovido pelos estudantes de biologia, da universidade de Coimbra.
O JN cita a opinião do presidente da secção regional do centro da Ordem dos Médicos, o Dr. José Manuel Silva, que terá dito, durante o encontro, que a discussão da eutanásia é uma moda, que decorre das notícias e que o que importa discutir mesmo é o que leva as pessoas a desejarem a morte. Disse ainda o médico, que é muito mais fácil para a sociedade, a solução da eutanásia, do que criar condições para que essa questão não se ponha sequer. Terá dito, o Dr. José Manuel Silva, que é precisa maior humanidade por parte dos médicos, em relação aos doentes… E aqui, se concordarem, começa a conversa a entornar ligeiramente… A humanidade dos médicos, em relação aos doentes, haveria de ser matéria acima de qualquer dúvida ou hipótese de discussão. Mas avancemos e seja o que deus quiser.
Diz, o Dr. José Manuel Silva, que há casos em que o médico nem sequer olha para o doente e, assim sendo, “como é que o poderá sequer ouvir?! …” Defende por isso que, em vez da eutanásia, se deve discutir – isso sim – a distanásia: o prolongamento artificial da vida! Em resposta, Faria e Costa, presidente do conselho directivo da faculdade de direito da universidade de Coimbra... e quanto a ser moda, discutir a eutanásia… responde que essa é uma declaração que vale por um perfeito disparate.
Mas não nos dispersemos. Regressemos à dúvida essencial do Dr. José Manuel Silva. Estranha e interroga-se, porque é que as pessoas querem morrer… Diz que isso é que é preciso saber, descobrir, discutir… Ora, se tivermos como verdadeiras as declarações deste mesmo Dr. José Manuel Silva , ao dizer que há médicos que nem sequer olham para os doentes e que é precisa mais humanidade por parte dos médicos em relação aos doentes… Tomando estas declarações como verdadeiras… Que discussão haverá para fazer, sobre as razões que podem levar alguém a preferir a morte que tal sorte?!...
Adiante uma vez mais.
Vamos às declarações de um outro convidado para este debate. No caso, o padre Virgílio Miranda Neves.
Concordou com o Dr. José Manuel, mas fez questão em dar este exemplo pragmático. Disse, o padre Neves, que “há uma distinção entre matar e deixar morrer”. E não é que há mesmo!?, apesar de fazer uma diferença relativa, para quem morre… Ou talvez não! Em certas circunstâncias, pode ser mais doloroso deixar-se uma pessoa morrer, do que matá-la. Não será bem o caso, no caso da eutanásia passiva, ou seja, nos casos em que se suspende a alimentação, a medicação, a ventilação e outros suportes de vida, todo o processo é feito de forma a evitar ao máximo o sofrimento do doente, se bem que, na maioria dos casos, o doente em causa esteja já em coma, há tempo demais para haver qualquer esperança e a passagem para o outro lado – ninguém pode garantir – mas é bem possível que aconteça, sem que o próprio se aperceba, do que está a acontecer-lhe… Geralmente, são estes os casos em que se fala de eutanásia passiva, em deixar morrer. Os casos de comas irreversíveis.
O padre Virgílio Miranda Neves diz e muito bem, que há uma diferença, entre matar e deixar morrer. Mas a verdade é que, se tirarmos os suportes de vida essenciais à sobrevivência do doente, ele morre mesmo e por acção directa de nós outros, porque lhe cortámos todas as pontes, que o mantinham ligado à vida. Em condições dessas, só mesmo um milagre pode salvar. Claro que, de milagres estará o padre Neves bem mais habilitado a falar. Mas não consta que tenha falado.
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