quarta-feira, 7 de maio de 2008

"'tá bonito, não 'tá?..."




Ora bem, Bob Geldof, sir Bob Geldof esteve em Lisboa a convite do semanário Expresso e do Banco Espírito Santo. Veio falar de como "Fazer a Diferença" no combate à fome e à discriminação no mundo e neste tão aclamado século 21… O debate era sobre o desenvolvimento sustentável.
Já é História, a visita do músico irlandês a Lisboa e porque, a meio da intervenção e quando falava das relações privilegiadas entre Portugal e África e a responsabilidade acrescida que isso implica… Bob Geldof interpelou directamente o governo de Luanda, dizendo que Angola está a ser governada por criminosos. Lembrou, como exemplo, que se constroem na baía de Luanda as casas mais ricas do mundo, mais caras que em Park Lane, Chelsea, bairros chiques de Londres. Disse que Angola tem potencial para ser o país mais rico do mundo e no entanto… não é, pelas razões que já percebemos. Porque, para Bob Geldof, Angola está a ser gerida por criminosos, que permitem este tipo de disparidades.
Ora a declaração caiu que nem uma bomba. A embaixada angolana já condenou as afirmações, classificando-as de manifesta má fé e reveladoras de um total desconhecimento do esforço do governo de Luanda, para melhorar as condições de vida das populações. Enfim, terá feito o que lhe competia, que, isto, quem não se sente, diz-se que não é filho de boa gente...
As agências de notícias e os jornais tentaram entretanto e naturalmente recolher reacções, também dos organizadores do evento. Do lado do semanário Expresso não houve qualquer comentário às afirmações de Bob Geldof… Diz o jornal que em nome da liberdade de expressão.
Já da parte do banco anfitrião, o Espírito Santo, a reacção foi surpreendente. O Banco diz-se totalmente alheio às afirmações, continuando, que não se identifica com as afirmações injuriosas do orador convidado.
Ora vamos lá a ver se nos entendemos! Se de facto o BES se afirmasse completamente alheio às afirmações de Bob Geldof, o que tinha a fazer era dizer, como o Expresso, que não tinha nada a dizer. Em nome da liberdade de expressão, por exemplo. Não lhe ficava mal. Não o comprometia e nem espantava ninguém. Agora dizer que se distancia inequivocamente das afirmações injuriosas, já parece um pouco mais suspeito. Para dizer o mínimo.
Ao classificá-las de injuriosas, revela logo uma tomada de posição. Uma opinião formada e definitiva. Um juízo de valor, esse sim, inequívoco. Está, sim senhor, a imiscuir-se nas declarações do orador.
O mesmo para esse distanciamento anunciado. Como se o assunto só pudesse, ou devesse ser tocado com uma vara de 5 metros, por mor de contágios infectos, ou coisa ainda pior.
A verdade é que, se o BES tivesse respondido como o Expresso o fez, ninguém, rigorosamente ninguém poderia levar a mal. Porque Bob Geldof já é homem feito e responde pelo que diz e faz. Porque ninguém poderia, nem mesmo – supostamente – os parceiros comerciais que o Banco possa ter em Angola poderiam ou deveriam levar a mal o silêncio. Não é o sigilo a alma do negócio?!... Então, porque não guardaram em segredo o que realmente pensam do assunto?! Teriam ficado bem melhor na fotografia.

Fotografias…
O Diário de Notícias pergunta hoje, logo na capa, porque é que não há fotografias de mortos de um ciclone que matou mais de 22 mil pessoas.
O ciclone de que se fala é o que varreu a Birmânia, naturalmente. Explica-se depois, em legenda, que a ausência de jornalistas estrangeiros na Birmânia, os maus acessos às zonas atingidas e os generais que temem a reacção das famílias famintas podem explicar a ausência de imagens, que revelem a real dimensão do desastre.
Entra-se depois pelo jornal e, aí sim, caímos – ou ela nos cai em cima, a fotografia dos mortos no ataque aéreo a Hiroxima, nesse 8 de Agosto de 1945.
São aliás 4 fotografias, das 10 agora divulgadas por um oficial norte-americano, que esteve no Japão durante a ocupação, entre 45 e 49.
Dez fotografias do horror que ficou, depois da bomba atómica ter descido dos céus sobre Hiroxima. Como dizia o filme: tu não viste nada em Hiroxima! … Pois este oficial descobriu as fotografias nessa altura e resolveu agora mostrá-las ao mundo.
Um número indeterminado de corpos disformes amontoados num cenário de destruição absoluta. De real destruição em massa.
As fotografias terão sido tiradas por um japonês, de que se desconhece a identidade e que não deve, aliás, ter sobrevivido muito ao bombardeamento. As fotos foram tiradas pouco depois. Numa população de 450 mil pessoas, Hiroxima perdeu nesse dia 120 mil; perto de um quarto da população.
As fotografias que o DN hoje publica são obviamente horríveis e estranhas de perceber, ou "encaixar"… Mas se calhar, tinham mesmo de ser publicadas e não só pelo inédito da revelação…
Depois, e em todos os jornais desta manhã, se publica a fotografia do “pedófilo dos olhos azuis”. A Interpol já lançou a caça ao homem, depois do sucesso alcançado com um procedimento semelhante e em relação a um outro cidadão, procurado por violação e abusos sexuais sobre menores. Divulgou-se a fotografia pelo mundo e o homem acabou por ser denunciado e preso. No caso deste, escusa-se mesmo a identificação, idade, ou país de origem. O que conta é o rosto que, ao contrário do caso anterior, o acusado nem se preocupou em disfarçar ou distorcer nas imagens, onde aparece explicitamente abusando sexualmente de 3 crianças asiáticas.
Mas isto dos rostos distorcidos também trás que se lhe diga!
Por exemplo, ontem nos telejornais passou, que eu vi, as imagens do chamado Matador das Aldeias. Um homem que matou 4 idosos e cometeu mais 18 homicídios e sevícias várias e foi ontem condenado à pena máxima pelo tribunal de Vila do Conde.
À saída do tribunal o condenado aparecia na televisão com a cara distorcida com aquele truque da pequena grelha quadriculada, que supostamente preserva a identidade da pessoa. Neste caso, o da pessoa já ter sido condenada e ir até mesmo já a caminho da prisão efectiva, pode-se perguntar para quê tapar-lhe a cara?!... Mas enfim são critérios. Acontece é que, na capa do Correio da Manhã de hoje, o tal Matador das Aldeias aparece de cara descoberta, a fazer o mesmo percurso a caminho do carro celular e onde ontem as televisões acharam que lhe deveriam tapar o rosto. De ontem para hoje o que terá acontecido?!...
Enfim, de ontem para hoje aconteceu muita coisa. No mundo e cá em casa também. Que o mundo anda depressa. Tão depressa que, por exemplo, o jovem que ontem alegadamente terá empurrado a avó da janela, fazendo-a cair desamparada sobre um telheiro…. Foi em Lisboa. A senhora está no hospital mas livre de perigo. O jovem diz que é problemático e já esteve numa instituição de menores em risco e a polícia levou-o para averiguações… Pois na capa do Diário de Notícias, diz-se que o jovem tem 12 anos. O resto, a chamada remete-nos para a página 24. E nós vamos. E 24 páginas depois… note-se que não foram 24 horas, foram 24 páginas depois, lê-se que o jovem, adolescente que terá empurrado a avó de um terceiro andar para a rua, tem entre os 16 e os 18 anos. Isto é que é crescer depressa!
Mas há mais. Há a fotografia! 12 ou 16anos, tanto faz. Na fotografia, o jovem aparece saindo de casa, acompanhado por dois polícias. Mãos nos bolsos e sem grande alarido. A cara aparece tapada com a tal grelha quadriculada que, intencionalmente, oculta a identidade do jovem. Muito mal, mas a ideia é ocultar mesmo. Ao lado, passando-lhe um braço pelo ombro, um polícia encaminha o jovem. Atrás, uma mulher polícia ergue o braço para a câmara, com a mão fazendo o sinal para que se não fotografe o jovem. Enfim, foi tarde demais. Já estava. Não se sabe o que terá feito ou dito, a seguir e entretanto, a jovem mulher policia, ao fotógrafo do DN. Não se sabe se o interpelou, dizendo porque é que não devia tirar fotografias... O que se sabe, é que a fotografia, apesar de completamente inútil, acabou por ser publicada. Ou seja, a polícia disse que não se podia tirar, ou que não se devia tirar, ou por favor, para não tirar fotografias ao jovem …. Mas se já está, já está. E, citando um outro filme, no caso, o Páteo das Cantigas… "‘tá bonito, não ‘tá? "

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