quinta-feira, 13 de março de 2008

Apostar na língua, no património e nas artes. É bastante vago, mas, à partida, soa bem.
E António Pinto Ribeiro, o actual ministro da Cultura, promete serem essas as prioridades do ministério que tutela.
Ora vamos à notícia. Vem no "DN", que, quarta-feira que vem, o ministro vai a S. Bento, aí pelo meio/fim da manhã para ser ouvido pela Comissão de Ética, Cultura e Sociedade. Deverá ser abordado o dossier "ensino artístico em Portugal", mas antes disso e entretanto, o Diário de Notícias já conseguiu que Pinto Ribeiro adiantasse algumas das linhas mestras do seu mandato próximo futuro… E, a saber, as áreas prioritárias são então a língua, o património e as artes… O que é um pouco vago, como já vimos, mas soa bem, como também estou em crer que concordarão.
Agora, o jornal esclarece que o que o ministro começou por dizer, quando o entrevistaram, foi que "a vinda para o Governo negoceia-se politicamente".
Ora, resta saber a que pergunta é que esta resposta corresponde… Ter-lhe-á sido perguntado: Como é que se negoceia a vinda para o Governo?!... Ou antes se a vinda para o Governo se negoceia politicamente?.. Ou ainda, por exemplo e absurdo, se a entrada no Governo se negoceia por mérito dos candidatos, reconhecida autoridade na matéria que se propõem ministrar, ou… ou quê? Por exemplo.
Também a verdade é que, tratando-se de um cargo político, faz todo o sentido que as negociações a haver se façam politicamente. Por isso adiante e vamos às prioridades.
Disse o ministro ao “DN” que tenciona influenciar o ministério da cultura em duas vertentes.
Primeiro, que é importante assegurar a cultura como eixo de crescimento económico, para que as artes e as indústrias culturais possam contribuir para o PIB nacional.
A cultura como eixo de crescimento… sempre o foi. Até mesmo económico, pelo menos nas civilizações que o perceberam a tempo. Que a cultura até pode dar dinheiro, desde que não a vendam a pataco.
A outra vertente de que se fala, será, segundo o “DN”, citando o ministro, "a afirmação internacional de que a nossa cultura precisa"…
Por outras palavras, ou quase… “haverá que aprofundar a nossa própria identidade do ponto de vista internacional, sem nos diluirmos”… terá sido o que o ministro disse ao “DN”. Que há que aprofundar a nossa própria identidade do ponto de vista internacional, sem nos diluirmos… Ora aí está o que faz as pressas. Dizia que era um pouco vaga a presunção enunciada… pois havia que ler até ao fim. A língua, a arte, o património… a questão resume-se afinal a isto: a aprofundar a nossa identidade (presume-se que nacional) do ponto de vista internacional, sem nos diluirmos. Sem nos diluirmos em quê!?


E talvez já não se lembrem da história que aqui vos contei ontem, de um cidadão inglês, que trouxe colada á sola do sapato um baguito de uva esborrachado. Tê-lo-á – diz ele – pisado quando andava às compras no supermercado. Lá dentro não houve surpresas, mas cá fora escorregou, caiu e rompeu um tendão de uma perna. Diz que a culpa foi da uva. Diz que a uva é culpa do supermercado, donde, é o supermercado quem tem de o indemnizar pelo prejuízo. Prejuízo físico e moral e psíquico e tudo isso soma 400 mil euros. Diz ele. Ora de indemnizações nos fala também o Correio da Manhã desta quinta feira.
Fala, ou relembra, melhor dito. A indemnização pedida pelo ex ministro e parlamentar socialista Paulo Pedroso.
Uma indemnização de 800 mil euros por ter sido detido preventivamente durante 5 meses, na consequência do processo Casa Pia.
Na altura, o deputado foi acusado de 23 crimes de abuso sexual. Na altura também, não chegou a ir a tribunal, sequer, por uma decisão da juíza instrutora do processo. Na altura, corria o ano de 2004.
Ora, 4 anos passados, Pedroso quer 800 mil euros de indemnização. Diz que é um imperativo ético sentar o Estado no banco dos réus e responsabilizar a Justiça.
Enfim, responsabilizar a Justiça é coisa que não se espera que alguém ponha em dúvida que se faça. Sempre e em qualquer circunstância. Quanto mais não seja, porque, ou muito me engano, ou o próprio conceito de Justiça passa um bocado por aí. Pelo assumir de responsabilidades.
Quanto aos 5 meses de prisão preventiva…. Se formos a fazer contas, quanto poderão pedir de indemnização ao Estado os outros cidadãos, presos preventivamente por períodos um pouco mais extensos?... Por exemplo, um ano. Daria, portanto: 5 mais 5 são dez – dava 1 milhão e 600 mil euros, mais dois meses a 160 mil por mês dá 320 mil, a somar ao milhão e 600 mil dá portanto… enfim, é fazer as contas.
Mas deixemo-nos de brincadeiras, é sempre um imperativo ético sentar o Estado no banco dos réus – se lhe quisermos chamar assim, nem que seja metaforicamente – para que o Estado assuma as responsabilidades que lhe competem, em coisas tão elementares como o respeito pela dignidade de cada um. Nem que a dignidade de cada um… o bom nome, como se costuma dizer, valha, cá em Portugal, o mesmo – pelo menos para alguns –o mesmo, a dignidade, quanto as pernas de um qualquer cidadão inglês que tenha escorregado numa casca de uva, à saída do supermercado, caído desamparado e magoado ambas as supracitadas e já referidas, á razão de 400 mil euros por cada perna.



Fica só por saber em que seminário é que este padre se formou, mas vamos à história. Diz o 24 Horas que foi condenado a prisão perpétua, um padre considerado culpado nos massacres do Ruanda, em 94.
O Padre é de etnia hutu. O abade Atahane Seromba. E é o primeiro sacerdote católico a ser julgado pelo Tribunal Penal Internacional para os Crimes no Ruanda. Julgado e condenado por crimes contra a Humanidade.
Já em finais de 2006, num primeiro julgamento, tinha sido condenado a 15 anos de prisão, por – abrem-se as aspas – " ajuda e incentivo" – fecham-se aspas – nas matanças da minoria tutsi do Ruanda. Agora os juízes reconsideraram e chegaram à conclusão que este padre fez um pouco mais que dar só uma ajuda e incentivo aos massacres. Ou então, que essa ajuda e incentivo foi um pouco longe demais. O exemplo. Foi o próprio padre quem autorizou as autoridades locais a destruírem a igreja onde se tinham refugiado 1.500 tutsis. A igreja veio abaixo esmagando e soterrando até à morte os 1.500 fiéis.
Dos livros de História, mesmo a mais antiga e bárbara, sobe de repente a memória de outras guerras, onde os templos religiosos eram o último refúgio e inviolável. Nenhum soldado se atreveria a violar solo sagrado. Nenhum se atreveria a desafiar a cólera divina, perseguindo e matando os filhos de Deus dentro da própria casa do Pai. Fosse por antigas leis da guerra, fosse por simples medo e superstição…
Neste caso, foi o próprio padre quem autorizou a blasfémia e a traição. Pensavam os refugiados que ali estariam em segurança… Ou talvez não. Talvez, por qualquer estranho e inexplicável pressentimento, tivessem percebido que a Hora tinha chegado e fosse, justamente aí que, abandonados por todos, se entregassem ao Sacrifício. Aceitando a loucura dos homens como sinal da ira divina? Ou vice-versa?...
Para o que importa agora é que o sacerdote ruandês foi condenado pelo tribunal Internacional, a prisão perpétua. Sendo ele um homem da Fé, faz ainda mais sentido o voto que fica expresso: que Deus lhe dê muita vida e saúde.

1 comentário:

Anónimo disse...

Eterno Malaquias.
Desculpa o cabelo nos olhos.
Quando bebemos um copo?
Não o copo.

pedromiguelcosta@sic.pt

faz sainete!