quarta-feira, 24 de outubro de 2007

João Botelho retirou a assinatura do filme e entretanto ela move-se… a comunicação social, à volta da polémica, do inédito da situação. E entretanto ela move-se a expectativa à volta da Corrupção, que era de João Botelho e agora será de Alexandre Valente, quando chegar às salas, a 1 de Novembro.
Ontem, Valente, em conferência de imprensa, disse mesmo que vai ser um filme de produtor e disse também que, plo contracto, um produtor pode cortar, escolher, editar como entender, que é coisa até normal. Como se sabe, terão sido cortes e montagens feitas à revelia de João Botelho, o que terá feito estalar o conflito entre os dois cineastas – realizador e produtor… O produtor acha que o contexto do filme não sofreu com os cortes… Botelho não acha e porque diz que não foi tido nem achado na montagem, então sai fora da ficha técnica. Diz-se que as cenas cortadas foram coisa mínima, cenas em que quase não se passaria nada, ou quase nada de relevante para a trama do enredo… Botelho diz que ele é que sabe, se fazem falta ou não…
Razão terão eventualmente ambos… que nestas coisas, um teimoso nunca teima sozinho…
Agora vamos a ver… Corrupção, o filme, parte, e ninguém ainda o desmentiu formalmente, do livro de Carolina Salgado e da escandaleira que envolve actividades ilícitas, se não criminosas mesmo, no futebol nacional e as ligações criminosas entre vários poderes públicos, semi públicos e privados… Episódios picarescos, com assaltos e espancamentos por encomenda, troca de favores, sexuais e outros… e tudo isto narrado por interposta pessoa, em nome daquela que foi namorada, companheira, amante, ou qualquer coisa de Jorge Nuno Pinto da Costa, personagem que - mesmo sem apitos dourados - já dava um filme, p'lo vulto e protagonismo que tem tido, em episódios vários da vida nacional. Ou mesmo só ele próprio, pela pose, pela verve… Mas não! Junta-se ainda a jovem e assustada Carolina, que – nos jornais mais recentes – dizem que é agora arguida num processo de uso, tráfico e incitamento ao consumo de drogas.
Com esta matéria prima… o sucesso pareceria fácil à partida. Especiosa, sumarenta, nesse lusco-fusco sórdido, quase série B, à escala lusitana.
Claro que todos os que falaram já em nome do filme de João Botelho, que João Botelho não assina, se recusam a admitir que o filme faça mais do que inspirar-se no livro. Como se, antes do livro, o assunto em si não tivesse já pano para todas as ficções… Não fosse já assunto mais que falado e discutido na sociedade portuguesa… Como se fosse preciso o sucesso e a polémica que o lançamento do livro provocaram, para alguém despertar para o assunto e pensar: “oh diabo! Isto até dava um filme”.
Isto o quê? O livro, a escandaleira que o rodeou, ou a corrupção no futebol e na sociedade portuguesa em geral, ou – pra não assustar ninguém – só em casos muito pontuais e lamentáveis?... Seja o que for, o filme fez-se e do que me lembro, falou-se mais que o filme não pretende retratar ninguém, de que o filme não vem à boleia de outros sucessos recentes… do que me lembro, talvez se tenha falado mais do que o filme não era!
A verdade é que, saber o que o filme é, de facto, só se saberá no dia mesmo da estreia, já que não haverá, ao que parece, projecções anteriores para a crítica e comunicação social…
Um pequeno pormenor, talvez até despiciendo, mas em que, por exemplo o Diário de Noticias reparou e fez questão de referir na edição de hoje… enfim, outra novidade!
Mas enfim, o país não tem uma indústria cinematográfica por aí além, portanto é natural que o nervosismo se instale, quando a expectativa é grande e a responsabilidade também… Vai-se a ver e daqui por um tempo, João Botelho e Alexandre Valente ainda se vão rir disto tudo e quem sabe voltar a trabalhar juntos em harmonia e sem discussões insolúveis.
Até lá, fica a Corrupção.
Sem assinatura do realizador, que se queixa de ter sido corrido da mesa de montagem …
Fica a Corrupção: acto ou efeito de infectar… as relações entre os dois cineastas .
Fica a Corrupção: acto de adulterar… de Alexandre Valente, que alegadamente adulterou a ideia inicial do realizador .
Fica a Corrupção: desmoralização… de João Botelho, que terá desistido da discussão e preferiu riscar-se da ficha técnica.
E fica a Corrupção "tout court" à volta do filme, ele próprio e todo o fenómeno que se gerou à volta dele .
Corrupção, aqui no sentido de sedução, que é outro dos que cita esta 5ª edição do dicionário de Língua Portuguesa, que tenho aqui à minha frente. Não vos digo a editora, por causa da publicidade, mas digo-vos que é uma edição de 83, que ainda deve estar relativamente actualizada.
Sobra ainda, para fechar rapidamente, a Corrupção: apodrecimento, decomposição. Coisas que, como se sabe, deixam sempre um cheiro típico e desagradável. E aqui não me ocorre nenhuma comparação possível com o caso em apreço…

1 comentário:

Anónimo disse...

outra cor.. outra cor..
que não se percebe..