segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Empresas públicas pagaram homenagem a Ana Vitorino – é a uma das manchetes do Público, hoje. Ana Vitorino era, na altura, secretária de Estado dos transportes e foram os presidentes da REFER, da CP e de, pelo menos, mais uma sociedade pública de transportes quem convidou e pagou, alegadamente com dinheiros públicos, o jantar de homenagem à secretária de Estado e a mais 50 gestores públicos. Pelo aparato da manchete, somos levados a crer que estamos perante um pequeno ilícito, ou, pelo menos, coisa menos própria…

Temos também, no JN, a chamada de capa, que diz que há funcionários da Direcção de Veterinária acusados de corrupção. Diz o jornal, que havia empresários que pagavam subornos, em troca de licenciamentos para instalações pecuárias…

No JN, ainda e abrindo o jornal, temos logo na página 3 a notícia dos chamados “casamentos brancos”. Ou seja, do esquema que já leva mais de 100 arguidos e que consiste em casar imigrantes estrangeiros com mulheres portuguesas, para lhes facilitar a legalização em Portugal e lhes abrir as portas do espaço Schengen. O caso de que se fala centra-se na comarca de Gondomar e envolve cidadãos portugueses e paquistaneses. Diz que as mulheres em causa são na maioria prostitutas e que o esquema agora em investigação pode ter ligações a uma rede espanhola …

No Correio da Manhã, a discreta chamada de capa diz que o Fisco perdoou as dívidas de Manuel Godinho, o sucateiro de Ovar, o da Face Oculta. Perdoar não terá bem sido o caso, mas deixou-as prescrever, o que acaba por ir dar ao mesmo. Diz o jornal que, desde 1994, que o empresário sucateiro faz orelhas moucas às intimações do Fisco e não só não paga, como falta às convocatórias do tribunal. Diz que durante esses anos todos não pagou impostos e usou amigos das Finanças para encobrir a situação… até que, pelos vistos e segundo o título do jornal… a dívida caducou e assim sendo, por exemplo, os 164 mil euros de IVA em débito é dinheiro que nunca há-de entrar nos cofres do estado…

Ora bem e continua-se a falar de corrupção porquê?... porquê tanto alarido e tanta manchete indignada?... será ainda notícia a merecer tamanho espavento?!...

Consta que os ingleses chegaram à conclusão de que lhes falta uma palavra, que traduza fielmente o verbo português – desenrascar…. Ou desenrascar-se… ou, na sua forma substantiva – o desenrascanço.

Pois quereis exemplo mais vivo do conceito?... Pois não terá sido assim, que Portugal sobreviveu durante 866 anos?… desenrascando-se.

Atente-se, por exemplo, no episódio do cerco de Lisboa… foi para desenrascar a coisa, que o voluntarioso Martim Moniz se deixou entalar na porta do castelo...não é histórico, mas poderia dizer-se que é “bene trovato”…… agora, o que fica em aberto é saber o que o heróico soldado terá dito aos sarracenos, para os convencer a entreabrir a porta, em primeiro lugar.

Por isso, que cesse tudo o que a musa antiga canta...corrupção, corrupção... o tanas ! Isto é Portugal a desenrascar-se!

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