quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

a aldeia dos macacos

Ora vamos a ela, à discreta e breve notícia que hoje fecha a edição do 24Horas…

Mas antes, deixem que cite só o primeiro parágrafo desta outra, que vem no Público. Aliás, o primeiro parágrafo e o primeiro período do segundo parágrafo, já agora. Diz assim: “O ex ministro da saúde, António Correia de Campos admitiu ontem a existência de excessos e até de fraudes no sector, classificando-as como perfeitamente normais”. O sector é naturalmente o da Saúde. Segue depois dizendo – o ex ministro – que é perfeitamente normal que haja 2… 3… 5% de fraudes no Serviço Nacional de Saúde. Lá mais para a frente continua dizendo, que tudo se deve à “organização humana” e que “em todas as grandes organizações há sempre ovelhas escuras, ranhosas, ovelhas negras”.

Admitamos que não há aqui matéria para acusar o ex ministro de xenofobia retórica, mas ressalve-se que, como se costuma dizer, em bom português é ovelha ronhosa, que se diz. Que tem ronha, que faz ronha… E isso não tem a ver com a cor da lã. Adiante e saltemos então para a última do 24.

A que diz que a Oposição, na Câmara de Lisboa, chumbou ontem a doação de 70 mil euros para plantar árvores. A doação de uma empresa, que o jornal não identifica, mas, para o caso, também não é preciso. Para o que conta, fica que a Oposição da Câmara de Lisboa chumbou a proposta de doação de 70 mil euros, à autarquia, por uma empresa, para a plantação de árvores. Admito que não faço a mínima ideia de quantas árvores se podem plantar com 70 mil euros, mas uma só que fosse, já seria ganho. Mas o que está aqui em causa são os argumentos que levaram ao chumbo. Segundo o 24 foi porque a Oposição da Câmara de Lisboa considerou que se estava perante um contracto de publicidade e não de uma doação, assim mesmo, tout court, desinteressada e sem contrapartidas.

Há decerto uma base insofismável para esta argumentação. Haverá talvez o receio que os não identificados mecenas caiam na tentação de afixar, em cada uma dessas árvores, um cartaz gigantesco a anunciar o patrocínio. Um cartaz tão grande, que esconda a própria árvore, ou acabe a usá-la quase só e apenas como suporte de afixação de publicidade. Isso, claro que seria tão pouco interessante, como quase pouco provável. Estou a ver uma coisa mais no género de como estão os bichinhos no jardim zoológico. Esta girafa é patrocinada, por exemplo, pelos sabonetes Aurora; ou, este periquito é apadrinhado pelas rações Piu Piu… Consta que este foi o processo que o Zoo de Lisboa descobriu para salvaguardar a própria sobrevivência. Os bichos não se queixam e os visitantes também não. Ou seja, não é por causa dos anúncios dos mecenas, que as pessoas deixam de prestar atenção à bicharada.

Claro que muito menos discretos foram os mecenas, que este ano a Câmara de Lisboa arranjou para financiar as luminárias de Natal. Sendo que, para muito boa gente, foi um pouco difícil perceber, pelo menos ao princípio e por exemplo, o que estava a TMN a fazer, de tenda montada em plena rotunda do marquês de Pombal… Aí também os argumentos eram idênticos, aos do Jardim Zoológico… Se não fossem os mecenas, não havia iluminações de natal … Doação, ou contracto de publicidade, do que me lembro, a polémica só surgiu depois e não directa e espontaneamente provocada por protestos da Oposição autárquica na Câmara de Lisboa.

Neste caso há-de haver outras razões e pormenores que uma breve num jornal não pode contar… ainda mais já em fecho de edição, já de saída, quase a cair da página abaixo… mas assim mesmo e só com o que fica dito, fica também a sensação de que alguém poderá estar a tomar a árvore pela floresta.

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