terça-feira, 18 de março de 2008


O representante da classe diz que o caso está a ter uma elevada cobertura mediática por ser um taxista, o protagonista da notícia.
Ora aí está uma grande verdade. É justamente por ser um taxista que o assunto merece a tal cobertura mediática especial de que fala o tal representante da classe. E aqui, a palavra justamente não foi escolha do azar, é mesmo uma questão de justeza, ou de justiça, se quisermos. E passemos por cima a questão de saber se o verbo é o mais correcto quando se diz que o representante da classe "fala" da cobertura mediática e não que o representante da classe se "queixa" da cobertura mediática… por isso, adiante.
Adiante, porque a verdade é que a história está a merecer sim senhor a cobertura mediática de todos os jornais desta manhã. Com mais ou menos destaque, mas está. A história do atropelamento de 4 crianças, sábado que passou, à tarde, na Praça das Flores, no Porto. Crianças entre os 4 e os 12 anos que atravessavam a rua, parece que fora da passadeira, quando foram colhidas pelo táxi. O condutor tinha uma percentagem de 0,92 de álcool no sangue. O limite máximo previsto na lei é de 0,5, se bem se lembram. Ontem dizia-vos eu que o pai do condutor que é também, ao que consta o patrão, saía em defesa do filho/empregado dizendo… enfim, reconhecendo que ele estaria ligeiramente embriagado, quando do acidente… Sabe-se também que quando se apresentou finalmente, uma hora depois do acidente, na esquadra da Campanhã, o motorista foi intimado a pagar uma multa de 500 euros e mandado para casa, sem mais e até ver.
Hoje, dizem os jornais que a Secretária de Estado dos Transportes considera gravíssimo o que aconteceu, mas garante que são cada vez mais exigentes as condições de admissão à profissão. Os certificados de aptidão profissional não se passam assim a qualquer um. Diz mesmo, a secretária de Estado que essa é uma exigência que até nem agrada muito e por aí além aos profissionais do sector. Em resposta temos o representante da classe, de que vos falava ao princípio, a dizer que o tal certificado é uma perfeita fantochada – com aspas.
Augusto Santos, o presidente da Associação de Defesa e Segurança dos Motoristas de Táxi do Porto diz que o tal certificado de aptidão só existe para os fazer gastar dinheiro e fazer perder tempo. Acha despropositado pagar 1100 euros para obter o documento e depois 80 euros pela renovação, de 5 em 5 anos. Isto, para além do tempo que se perde. Diz ele que perde umas boas 6 horas de cada vez que tem de renovar a licença.
E depois, voltamos ao princípio. Diz Augusto Santos que os jornais estão a fazer esta cobertura – pelos vistos e na opinião dele – excessiva do acontecimento porque ele envolve um motorista de táxi.
Ora aí está uma evidência redundante. Pois é justamente por se tratar de um motorista de táxi que tudo se torna particularmente mais grave e exemplar. Porque um motorista de táxi não pode pegar num carro, muito menos um táxi, com 0,92 de álcool no sangue, quando o limite é 0,5. Um motorista de táxi deveria acusar um redondíssimo zero no teste do balão. Sem desculpas nem rodeios. Um zero absoluto.
Para que depois, se por qualquer azar do destino, se despistasse e atropelasse alguém, não se pudesse culpar a embriaguez e a falta de respeito.
E isto é muito importante que se perceba. É que um taxista a conduzir com os copos não pode nem deve comprometer uma classe inteira. Agora enquanto algum corporativismo serôdio mandar mais que o bom senso, então sim… paga a classe toda por inteiro e muito injustamente (quero crer que sim) e disso, meus amigos, nós não temos culpa nenhuma.

Isto hoje parece o dia das conclusões inúteis.
Temos então agora Dick Cheney a dizer que houve "mudanças fenomenais" no Iraque, desde que os Estados Unidos invadiram o país para derrubar Saddam, ou capturar Bin Laden… uma dessas coisas. Houve certamente mudanças fenomenais. Toda a gente já viu isso, a começar pelos próprios iraquianos.
Na fotografia que o Jornal de Notícias publica a ilustrar a visita do vice-presidente a Bagdad, vê-se Dick Cheney a descer as escadas do avião, ladeadas por dois seguranças de óculos escuros à Matrix e metralhadoras aperradas. Diz a legenda que Cheney acredita que o Iraque está a subir os degraus da normalidade. Reparam no trocadilho? Cheney desce as escadas do avião enquanto o Iraque sobe os degraus da normalidade!... Só mesmo um trocadilho destes para nos distrair da blague. A da normalidade, digo eu.
Depois temos essa outra afirmação curiosa que se costuma fazer nestas ocasiões. A da visita surpresa. Claro que é mentira. Estas visitas não são surpresa para ninguém, rigorosamente ninguém. Preparadas até ao mais pequeno pormenor, mobilizando dispositivos de segurança de que nós nem fazemos uma pequena ideia. Que surpresa resta e para quem? Para as populações civis do Iraque? Duvido que se surpreendam, de há 5 anos para cá, com quem entra e sai no país.
E John McCain, o candidato republicano à presidência também foi a Bagdad. Este numa visita mais de passeio. De contacto com as tropas… E disse que era de elogiar os progressos conseguidos com o apoio norte americano e com a determinação dos iraquianos na luta contra a al Qaeda… Aos soldados, em Mossul, McCain disse mesmo que estava feliz por perceber que o povo norte americano está a entender cada vez melhor a estratégia do "para o Iraque rapidamente e em força"
Também aqui ninguém acredita na tese da visita surpresa… É inconcebível que, se ninguém soubesse que John McCain ia chegar a Bagdad, o candidato se pudesse passear tão sorridente e à vontade pelas ruas da cidade, a ver as tropas e as tais mudanças fenomenais de que Cheney fala, enquanto o país sobe os degraus da normalidade…
Em Kerbala mais um atentado matou 40 pessoas. Em Bagdad e enquanto Cheney e McCain andavam lá nas suas voltas, explodiram pelo menos 4 bombas. Que diabo de forma mais ruidosa de subir escadas!...
Quanto a Dick Cheney encontrou-se com representantes políticos iraquianos e com o próprio primeiro-ministro Al Maliki. E acha então Dick Cheney que é especialmente significativo poder voltar ao Iraque para assinalar o 5º aniversário do início da campanha que libertou o povo da tirania de Saddam Hussein. Na televisão, ontem à noite, e enquanto o povo celebrava nas ruas a liberdade e as mudanças fenomenais, via-se o vice-presidente norte-americano em conversa com os representantes iraquianos. Uma sala ricamente decorada. Diria mesmo luxuosamente. Tapeçarias pesadas e lindíssimas, cadeirões dourados. Uma luz requintada e suave. Uma tranquilidade propícia a todos os optimismos. Um ambiente também relativamente próprio, se bem que talvez um pouco luxuoso demais para jogar playsation, por exemplo. Um daqueles jogos, como o que ainda ontem aqui vos falei… o tal Manhunt, em que se matam pessoas à machadada, para ganhar pontos e passar de nível. Um jogo de gosto muito duvidoso, mas enfim, é só a brincar, ninguém se aleija realmente e depois tudo se esquece depois do computador desligado e entre dois donuts e uma laranjada fresquinha.

Esta é uma informação quase paralela à própria história, mas fica para que conste. E ao que consta são precisos pelo menos dois milagres para ganhar a santidade. Um milagre – beatificação. Dois milagres - santidade. É o que se depreende da notícia. E a notícia diz que o papa reconheceu as virtudes heróicas de Joaquim Alves Brás, o fundador do Instituto das Cooperadoras da Família – considerado o apóstolo tutelar das empregadas domésticas – e põe a hipótese de beatificar o padre português se se provarem que foram milagrosas e não explicadas, o que para o caso parece valer como "impossíveis" pela medicina tradicional e conhecida, as curas atribuídas à influência de Joaquim Alves Brás.
Já vimos que se se contabilizarem, pelo menos, duas curas miraculosas, o padre Joaquim Brás pode passar de imediato à categoria de santo. Ora a questão que – com todo o respeito – fica em aberto é esta: como o próprio papa reconheceu, as tais virtudes heróicas do padre Joaquim não lhe bastariam já para ser considerado um santo? È que nem sempre é fácil… manter a virtude, ainda mais com heroísmo, o que só vem provar o que acaba de ser dito. Nem sempre é fácil.
Outra história que cruza os matutinos desta 3ª feira é a do alegado recuo socialista quanto à questão dos piercings e tatuagens nos menores de idade.
PS já aceita piercings em menores. Diz o Público
PS disposto a recuar na lei dos piercings, é o título do Jornal de Notícias.
Temos então que o partido socialista português se manifestou ontem disponível para aceitar que menores de 18 anos sejam autorizados a usar piercings ou tatuagens, desde que as respectivas famílias assumam a responsabilidade.
Havia portanto essa ideia de proibir estas práticas em menores, e em nome da saúde pública e dos próprios.
Ora no que toca a saúde pública o caso tem a ver com o risco de contágios e transmissão de doenças. Isto parece ter mais a ver com as condições de higiene que os profissionais respeitam, ou não, no exercício dos respectivos misteres: seja a tatuagem ou espetar pregos no corpo das pessoas… e nisso tanto faz que a pessoa seja menor ou já vá na terceira idade…
Quanto à autorização das famílias… Claro que pode-se passar a pedir uma autorização escrita, na hora da tatuagem. E se os pais autorizarem, acaba-se o perigo, de repente e por milagre?! Ou talvez não, mas isso para já não importa nada…?
Para já e para o que importa temos o PS a reacertar o tiro e a dizer que está aberto a rever a ideia de proibir os cidadãos em geral – já não se fala só nos menores – os cidadãos em geral de aplicarem piercings em zonas mais sensíveis, como a língua, perto de vasos sanguíneos, nervos, músculos, ou feridas cutâneas. Nestes casos – e já que não se pede a autorização ou conhecimento prévio dos pais – pede-se que as pessoas sejam alertadas para os riscos a que se estão a expor.
Tudo isto, diz a notícia, em nome da saúde e para regular uma actividade que está, ao que parece, em saudável crescimento. Há que garantir – cita o Jornal de Notícias – garantir as boas práticas no que respeita à aplicação de elementos estranhos ao corpo humano.
Longe da ideia dos socialistas portugueses – garante o deputado citado pelo jornal (Renato Sampaio, chama-se ele, já agora…) longe disso, diz o deputado. A ideia do PS nunca foi proibir por proibir. Aquilo a que se chama o proibicionismo. A intenção é mesmo zelar pela saúde das pessoas e garantir as boas práticas.
O livre arbítrio é uma faca de dois gumes.
Com o tabaco é quase a mesma coisa. Ainda alguém nos há-de explicar um dia, como é que uma coisa que é manifestamente tão venenosa e prejudicial à saúde pública e privada de cada um ainda é de venda livre na nossa terra… ai as boas práticas, as boas práticas

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